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Após votação na ONU, Israel construirá em territórios ocupados

Israel anunciou nesta sexta-feira que irá autorizar a construção de 3.000 novas casas em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia, em aparente represália à atribuição do status de Estado observador não-membro na ONU à Palestina.

"É correto. Em Jerusalém e na Cisjordânia", confirmou este alto funcionário israelense ao ser interrogado sobre a veracidade de uma mensagem no Twitter do correspondente diplomático do jornal israelense Haaretz.

"Netanyahu decidiu construir 3.000 novos alojamentos em Jerusalém Oriental e nas colônias da Cisjordânia, em resposta à iniciativa palestina na ONU", postou Barak Ravid em hebraico em sua conta no Twitter @BarakRavid, citando "um líder político".

[SAIBAMAIS]"Apesar da promessa que fez ao presidente (americano Barack) Obama, o primeiro-ministro Netanyahu deu uma ordem para que sejam mantidas as construções na zona E1 entre Maalé Adumim e Jerusalém, o que vai isolar a parte norte da Cisjordânia de sua região meridional", ressalta ainda Ravid.

"Trata-se de uma agressão israelense contra um Estado, e o mundo deve assumir suas responsabilidades", reagiu Hanane Achauri, membro do Comitê Executivo da Organização de Libertação da Palestina (OLP).

De acordo com o site de informação israelense, Ynet, a decisão de prosseguir com o plano de construção no setor E1 foi tomada na quinta-feira pelo Fórum dos nove principais ministros.

Paralisado há anos sob pressão americana, este polêmico projeto visa criar uma ligação territorial entre Maalé Adumim (35.000 habitantes) e as colônias de Jerusalém Oriental, ocupada e anexada desde 1967. Ambas as regiões estão a cerca de 10 km de distância uma da outra.

Ele foi denunciado com veemência pelos palestinos por praticamente dividir em duas a Cisjordânia, comprometendo a viabilidade de um Estado palestino.

"Nenhuma mudança no terreno"


"A decisão da ONU não mudará nada no terreno. Não haverá Estado palestino sem acordos garantindo a segurança dos cidadãos de Israel", declarou na quinta-feira à noite Netanyahu.

O primeiro-ministro, que denunciou a votação da Assembleia Geral e rejeitou o discurso do presidente palestino Mahmud Abbas, criticando-o por "não se expressar como um homem que ama a paz", foi acusado pela oposição de seu país de não dissuadir os palestinos de seu projeto.

Embora nos últimos dias alguns altos funcionários israelenses tenham dado a entender que Israel não adotaria medidas de retaliação nem questionaria os acordos firmados com os palestinos, o vice-primeiro-ministro, Sylvan Shalom, já vinha fazendo ameaças.

Shalom, um "falcão" que ocupa o terceiro lugar na lista do partido de Netanyahu, o Likud (direita), para as próximas eleições de 22 de janeiro, acusou Abbas de "uma iniciativa unilateral contrária aos Acordos de Oslo".

"A violação desses acordos (...) significa que Israel pode também tomar iniciativas unilaterais como a aplicação de soberania israelense nos Territórios e conectar Ma;aleh Adumim a Jerusalém", disse ele.



Israel poderia ainda bloquear os impostos que coleta para a Autoridade Palestina ou reduzir o número de autorizações de trabalho para palestinos.

"Vamos responder em tempo hábil, porque nós realmente assistimos a uma violação dos acordos", acrescentou o ministro de Assuntos Estratégicos, Moshe Yaalon.

A oposição, no entanto, concentrou suas críticas sobre o governo de Netanyahu, o favorito das próximas eleições.

"Israel perdeu hoje, com o reconhecimento na ONU, todas as conquistas que obtivemos através da negociação", lamentou o ex-ministro das Relações Exteriores, Tzipi Livni, que lançou esta semana um partido centrista.

"Este é o resultado de uma política equivocada, de quatro anos de impasse político, de discursos e acusações do governo de Netanyahu (...) que minaram Israel e nossos interesses de segurança", argumentou Livni.