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Direita em Israel critica vitória da Palestina na ONU

Jeusalém - A direita israelense acusa os palestinos de sabotarem a paz, enquanto a oposição critica o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu por não ter conseguido impedir a aprovação pelas Nações Unidas do status de Estado observador não membro para a Palestina.

As reações dos políticos israelenses à decisão estão muito polarizadas em função tanto das linhas ideológicas quanto pelo fato de a aprovação ter ocorrido em plena campanha para as eleições legislativas antecipadas de 22 de janeiro.

Mas nesta sexta-feira, uma autoridade de Israel anunciou o que já seria uma retaliação de seu governo, indicando que este vai autorizar a construção de 3.000 novas casas em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia.

"Israel: as Nações Unidas recompensam o terror", foi a manchete do jornal gratuito Israel Hayom, ligado ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Embora nos últimos dias alguns altos funcionários israelenses tenham dado a entender que Israel não adotaria medidas de retaliação nem questionaria os acordos firmados com os palestinos, o vice-primeiro-ministro, Sylvan Shalom, já vinha fazendo ameaças.

Shalom é um "falcão" que ocupa o terceiro lugar na lista no Likud (direita) para as próximas eleições.

"Embora Abu Mazen (nome de guerra do presidente Mahmud Abbas) seja considerado um moderado, não é fiel aos compromissos de seu antecessor Yasser Arafat", declarou Shalom à rádio pública.

"Os acordos de Oslo (1993) proibiam as iniciativas unilaterais", acrescentou.

"A violação desses acordos (...) significa que Israel também pode adotar medidas unilaterais, como aplicar a soberania israelense nos Territórios", ameaçou Shalom.

O ministro israelense se referia a uma eventual anexação da Cisjordânia ocupada em parte por Israel.

Com alguma frequência, alguns extremistas do Likud lançam essa ameaça.

Tal iniciativa parece improvável, mas Israel pode bloquear os impostos que arrecada em nome da Autoridade Palestina ou reduzir o número de vistos de trabalho para os palestinos.

Para a oposição, o alvo de todas as críticas é o governo de direita de Netanyahu, grande favorito nas próximas eleições.

A oposição acusa Netanyahu pelo estancamento das negociações com os palestinos, oficialmente em ponto morto desde outubro de 2010, mas, na realidade, paralisadas desde 2008.

"Com o reconhecimento na ONU (da Palestina), Israel perdeu as conquistas obtidas por meio de negociações", lamentou a ex-ministra das Relações Exteriores Tzipi Livni (2006-2009), que, diante da perspectiva das eleições, lançou nesta semana um novo partido de centro.

"Isto é o resultado de uma política errada, de quatro anos de estagnação política, de discursos e de acusações do governo Netanyahu (...) que atentou contra Israel e contra nossos interesses de segurança diante dos palestinos e do mundo", declarou Livni.

Anteriormente, Tzipi Livni havia declarado que, com sua gestão na ONU, os palestinos cometeram um "atentado estratégico" que o governo "poderia ter impedido com negociações".

Assim como os líderes do governo, muitos especialistas destacavam que o novo status da Palestina na ONU, aprovado por mais de dois terços dos países representados no organismo internacional, terá poucas consequências concretas.

"O número de países que apoiaram a resolução da ONU (concedendo à Palestina o status de Estado observador) não é importante. Sem a aprovação de Israel não haverá Estado palestino. Apesar de tudo, Israel representa 50% do conflito e uma votação nas Nações Unidas não mudará nada", insistiu um editorial do jornal Yediot Aharonot.