Pequim - A China é o primeiro importador, exportador e consumidor de madeira do mundo e também o maior responsável pelo esgotamento das florestas tropicais, denunciou uma ONG britânica em um relatório publicado esta quinta-feira (29/11) em Pequim.
Segundo a Agência de Pesquisa Ambiental (EIA), com sede em Londres, enquanto na década passada Estados Unidos e União Europeia tomaram medidas contra o desmatamento ilegal, a China tem comprado um volume crescente de madeira de origem duvidosa. Fazendo-se passar por compradores de cortiça e filmando com câmera oculta, os cientistas sondaram a fundo o mercado do corte ilegal.
Assim, demonstraram como as poderosas estatais chinesas dispõem de filiais implantadas em países como Moçambique e Mianmar, onde corrompem autoridades do mais alto nível.
"Entre 80% e 90% das árvores cortadas em Moçambique acabam na China", explicou em entrevista coletiva Julian Newman, encarregado da EIA. Segundo ele, desde volume, 44% são importados por empresas públicas chinesas. A ONG destaca que a demanda interna é o principal fator de alta das importações de madeira, que triplicaram desde o ano 2000.
Os chineses apreciam especialmente as madeiras tropicais raras, como a da roseira, com a qual fazem reproduções de móveis luxuosos, que estão na moda. Além disso, em 2011 compraram 30% da cortiça à venda em todo o mundo. As zonas de corte ilegal, enquanto isso, estão se deslocando para regiões do planeta mais flexíveis à prática.
A Indonésia, com as florestas tropicais mais importantes do planeta depois do Brasil e da bacia do Congo, foi durante muito tempo o "mau aluno", sacrificando suas matas para responder ao apetite insaciável da China, a segunda economia mundial atualmente. Mas desde 2005, Jacarta decidiu endurecer sua legislação.
Por isso, as empresas chinesas têm tentado a sorte em outros países, sobretudo africanos (Madagascar, Serra Leoa, Tanzânia, Gabão, Guiné Equatorial, República Democrática do Congo). No total, mais da metade das importações chinesas vêm de países com fama ruim quanto ao corte ilegal. A EIA aponta como exemplos mais flagrantes Mianmar, Papua Nova Guiné e Moçambique.
Ao mesmo tempo, a China continua sendo uma grande área de lavagem do dinheiro obtido com a madeira ilegal, graças a um setor em plena ascenção. As exportações de produtos madeireiros chineses se multiplicaram por sete em dez anos, dominadas por ordem decrescente pelos móveis, o papel e as tábuas.
"A China exporta desmatamento", resumiu, taxativa, a EIA. "Os especialistas coincidem em que todos os avanços feitos com as leis adotadas na União Europeia, Estados Unidos ou Austrália não servirão de nada se a China não fizer o mesmo", insistiu Jago Wadley, pesquisador da ONG britânica.
Interrogado esta quinta-feira (29/11) sobre as conclusões do informe, Hong Lei, porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, declarou: "A posição da China é muito clara: nós nos opomos ao desmatamento ilegal e ao comércio ilegal de madeira".