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Começa julgamento de envolvidos nos voos da morte na ditadura argentina

Buenos Aires - Um total de 66 militares e dois civis começaram a ser julgados nesta quarta-feira na Argentina pelos chamados ;voos da morte;, prática que consistia em jogar prisioneiros políticos vivos no mar ou no rio, entre outros crimes contra a Humanidade cometidos durante a ditadura (1976-1983).

O processo envolve 789 eventos e é o maior desde 2003, além de ser o segundo julgamento por violações de direitos humanos cometidos na Escola de Mecânica da Marinha (ESMA), o mais emblemático centro de extermínio do regime.

O julgamento começou em uma sala de audiências lotada, enquanto ativistas humanitários exigiam "justiça" em frente ao Tribunal de Buenos Aires.

Pela primeira vez estão sentados no banco dos réus oito pilotos da Marinha e da Guarda Costeira envolvidos nos "voos da morte", nos quais centenas de opositores foram jogados vivos no mar ou no Rio da Prata de aeronaves militares, uma maneira de fazer com que desaparecessem sem deixar rastros.

Entre os aviadores acusados estão o holandês-argentino Julio Poch, preso em 2009 enquanto trabalhava como piloto civil na Espanha, e Ricardo Ormello, um mecânico aeronáutico acusado de jogar na água os prisioneiros drogados.

O Tribunal Oral Criminal Federal n;5, presidido pelo juiz Daniel Obligado, abriu o julgamento que deve levar cerca de dois anos para ser concluído, durante o qual vão passar cerca de 900 testemunhas.

Entre as vítimas dos "voos da morte" estão as freiras francesas Alice Domon e Leonie Duquet, sequestradas junto com as fundadoras da organização humanitária Mães da Praça de Maio, em dezembro de 1977.

Também será julgado o economista e ex-secretário do Tesouro da ditadura, Juan Alemann, indiciado por ter testemunhado a tortura de Orlando Ruiz, um desaparecido que foi acusado de ter participado de um atentado contra essa antiga autoridade.

Os ex-marinheiros Alfredo Astiz e Jorge "Tigre" Acosta, assim como outros 30 soldados, são acusados pelo desaparecimento em 1977 da sueca Dagmar Hagelin, que tinha 17 anos na época.

Em 2010, Astiz e Acosta foram condenados à prisão perpétua no primeiro julgamento por crimes na ESMA, por onde passaram cerca de 5.000 prisioneiros, dos quais apenas cem sobreviveram.

Cerca de 30.000 opositores desapareceram durante a ditadura, segundo organismos humanitários.