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Egito protesta contra Mursi e Justiça inicia greve

Cairo - Os protestos contra os poderes especiais assumidos pelo presidente do Egito, Mohamed Mursi, prosseguiam neste sábado (24/11) no Cairo, com manifestantes enfrentando a polícia na Praça Tahrir, enquanto os juízes decretavam greve contra este "ataque sem precedentes ao Poder Judiciário".

Na quinta-feira, Mursi anunciou medidas que concentram poderes, o que provocou a ira da oposição, em um país que saiu há pouco da ditadura de 30 anos do governo de Hosni Mubarak.

Cerca de trinta tendas foram instaladas pelos opositores na emblemática Praça Tahrir, epicentro da revolta de 2011, onde os manifestantes mantinham-se aglomerados mesmo após as bombas de gás lacrimogêneo, lançadas pela polícia ao meio-dia (local).

"O Egito ingressa em uma nova revolução, já que nossa intenção não era substituir um ditador por outro ditador", declarou um manifestante, Mohamed Al Gamal, aludindo à revolta popular que derrubou Hosni Mubarak em fevereiro de 2011.

No final da tarde deste sábado, o Clube de Magistrados do Egito convocou "a suspensão do trabalho de todos os tribunais e promotorias" para protestar contra o decreto de Mursi que impede recursos judiciais diante de decisões da presidência.

A decisão do Clube de Magistrados ocorre após a Associação de Juízes de Alexandria anunciar "a suspensão das atividades em todos os tribunais e administrações judiciais das províncias de Alexandria e Beheira (...) até que se acabe a crise provocada pela declaração" inconstitucional de Mursi.

A mais alta autoridade judicial do Egito, o Conselho Superior da Magistratura, denunciou neste sábado as novas prerrogativas de Mursi, que taxou de "um ataque sem precedentes contra a independência do Poder Judiciário e suas decisões".

Na sexta-feira, mesmo em meio a fortes manifestações, o presidente egípcio, Mohamed Mursi, prometeu diante de milhares de partidários islamitas que o Egito está no caminho da democracia.

"O que quero é a estabilidade política, a estabilidade social e econômica e é para isso que trabalho", declarou Mursi em um longo discurso diante de seus partidários, reunidos próximos ao palácio presidencial.

Washington, por sua vez, lembrou que "uma das aspirações da revolução era garantir que o poder não estivesse concentrado nas mãos de uma só pessoa ou de apenas uma instituição".

A União Europeia também se manifestou e pediu a Mursi para respeite "o proceso democrático". Já a França considerou que as medidas adotadas na quinta-feira não vão "por um bom caminho".

"Ninguém pode deter nossa marcha para frente (...) Estou cumprindo minha função para servir a Deus e a nação e tomar as decisões após consultar todos", insistiu o presidente, citado pela agência oficial MENA.

Os opositores de Mursi começaram à noite um protesto na praça Tahrir para exigir que o dirigente islamita revogue sua decisão de conceder a si mesmo mais poderes.

"Todas as forças políticas revolucionárias concordaram em iniciar um sit-in nesta sexta-feira", declarou em um comunicado a Corrente Popular liderada por Hamdin Sabahi, candidato da esquerda que ficou em terceiro lugar nas eleições presidenciais de junho. Sabahi convocou uma grande manifestação para terça-feira.

No momento, 26 movimentos e pequenos partidos aceitaram participar do sit-in, um tipo de protesto em que os manifestantes permanecem sentados bloqueando vias públicas, afirmaram os organizadores à AFP.

Nas ruas próximas à praça, houve enfrentamentos na sexta-feira entre jovens e policiais.

No restante do país, segundo a televisão pública, os escritórios do PLJ, o partido de Mursi, foram incendiados em Ismailiya e Port Said.

Em Alexandria, os manifestantes incendiaram também algumas instalações do partido da Irmandade Muçulmana, após enfrentamentos com partidários de Mursi.

Em Sharm el Sheikh, nas margens do Mar Vermelho, centenas de manifestantes se manifestaram ao gritos de "Não a uma revolução combinada com autoritarismo".

Mohamed Mursi, primeiro presidente civil e islamita do país mais populoso do mundo árabe, atribuiu a si mesmo, em uma "declaração constitucional", o direito de tomar decisões ou medidas inapeláveis para proteger a revolução de 2011.

Seus partidários consideram que esta iniciativa permitirá estabilizar a transição democrática do país.

Contudo, a oposição o considera uma ameaça no caminho para a democracia e um "golpe de Estado" que põe em xeque as conquistas da revolta que derrubou, em 2011, o ditador Hosni Mubarak.