Jerusalém - O Exército israelense disparou nesta sexta-feira (23/11) perto da fronteira com a Faixa de Gaza, atingindo mortalmente um palestino, em um incidente que se converte no primeiro desafio para a precária trégua entre o Estado hebreu e o Hamas, no poder no enclave.
Sami Abu Zuhri, porta-voz do Hamas, denunciou "a primeira violação israelense à trégua", em vigor desde quarta-feira (21/11) às 19h00 GMT (17h00 de Brasília), informando que reportará o fato às autoridades do Egito, mediador do acordo.
Amwar Abdelhadi Qdeih, de 20 anos, morreu, e outros 19 palestinos foram feridos a tiros por soldados israelenses que dispararam contra um grupo de agricultores na localidade de Juzaa, a leste de Khan Yunes, informou à AFP um porta-voz dos serviços de emergência de Gaza, Adham Abu Selmiya.
Segundo testemunhas, os soldados atiraram do posto militar de Kisufim contra um grupo de palestinos, agricultores em sua maioria, que tentavam chegar as suas terras situadas perto da fronteira, zona proibida pelo exército israelense. O Exército de Israel afirmou que "cerca de 300 palestinos que tentavam se aproximar da cerca de segurança cometeram atos de vandalismo e danificaram a cerca".
"Os soldados efetuaram disparos de advertência, mas os palestinos continuaram se aproximando, e os militares atiraram então em suas pernas", disse uma porta-voz militar, acrescentando que um dos palestinos conseguiu passar pela fronteira, sendo depois direcionado ao lado palestino da fronteira.
Segundo o porta-voz do Hamas, "os disparos do ocupante foram efetuados diretamente contra os agricultores que retornavam as suas terras na zona fronteiriça e é a primeira violação israelense à trégua". O Hamas "seguirá esta violação através do mediador egípcio para garantir que não ocorra novamente", acrescentou Sami Abu Zuhri. O deputado palestino independente, Musfatá Barghuthi, denunciou em um comunicado "uma violação muito grave do cessar-fogo" e pediu aos "Estados Unidos e aos países que contribuíram para alcançar isso que exerçam uma pressão imediata e eficaz sobre Israel".
"Se estas ações não pararem imediatamente, Israel corre um grave risco de fazer com que esta precária trégua desmorone", considerou Barghuthi, que viajou da Cisjordânia a Gaza como demonstração de solidariedade. Um palestino morreu nesta sexta asfixiado depois de ter "inalado um gás tóxico", quando realizava trabalhos de reparo com outros três homens um túnel danificado pelos bombardeios israelenses durante a ofensiva no setor de Rafah (sul), anunciou o Ministério da Saúde do Hamas.
Na Cisjordânia, o Exército israelense mantinha as prisões após manifestações, às vezes violentas, em solidariedade à Faixa de Gaza. Nesta sexta-feira 28 palestinos foram detidos, entre eles cinco deputados do Hamas. Na quinta-feira houve 55 detenções. O Exército confirmou a prisão de quatro palestinos do Hamas. Entre eles está o influente Mahmud al-Ramahi, ex-secretário-geral do Conselho Legislativo, Parlamento palestino, que já foi detido em várias ocasiões.
O chefe de governo do Hamas, Ismail Haniyeh, pediu na quinta-feira que os grupos armados respeitassem a trégua, concluída na quarta-feira após oito dias de hostilidades nos quais morreram 166 palestinos, em sua maioria civis, incluindo 43 crianças e 13 mulheres. Seis palestinos (quatro civis e dois soldados) também faleceram.
"Saúdo as facções da resistência que respeitaram o acordo desde que entrou em vigor e peço a cada uma que a respeitem e ajam em conformidade", disse Haniyeh em um discurso na Cidade de Gaza.