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Reino Unido reconhece oposição síria, enquanto Ban teme 'batalha regional'

Damasco - Depois de Paris, Ancara e das monarquias do Golfo, Londres reconheceu nesta terça-feira (20/11) a nova coalizão de oposição síria "como a única representante legítima do povo sírio", enquanto o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse temer uma "batalha regional" na Síria.

No terreno, os confrontos entre insurgentes e combatentes curdos no noroeste do país causaram ao menos 29 mortes em 24 horas, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).



O Reino Unido reconheceu a coalizão opositora ao regime de Bashar al-Assad como "a única representante legítima" do povo sírio, afirmou o ministro das Relações Exteriores, William Hague, que pediu a nomeação de um representante da coalizão em Londres.

[SAIBAMAIS]A coalizão tem "muito que fazer para ganhar o apoio total do povo sírio e coordenar os esforços da oposição mais eficazmente. Mas é de enorme interesse da Síria, da região e do Reino Unido que nós os apoiemos e que não deixemos lugar para os grupos terroristas", acrescentou.

A União Europeia e Washington não chegaram tão longe. A UE considerou que a oposição é "a representante legítima das aspirações do povo sírio" e os Estados Unidos a chamou de "uma representante legítima".

Já Ban Ki-moon afirmou que teme a "militarização contínua, as violações abomináveis dos direitos humanos e o risco de ver a Síria se tornar um campo de batalha regional".

Durante uma visita ao Cairo, ele pediu à comunidade internacional apoio aos esforços do mediador da ONU e da Liga Árabe, Lakhdar Brahimi, para obter uma solução política "que atenda às aspirações legítimas do povo sírio".

Ao mesmo tempo, o chefe da diplomacia turca, Ahmet Davutoglu, anunciou que seu país estava na "última fase" de discussões antes de transmitir à Otan uma demanda formal por mísseis Patriot a serem posicionados em sua fronteira com a Síria.

Um serviço de inteligência rebelde

Os rebeldes anunciaram nesta terça a criação de um serviço de inteligência para "defender a revolução", em um país onde o regime espionou e aterrorizou a população durante meio século.

Está destinado a proteger "os filhos da revolução de ataques, prisões e assassinatos", mas também a encontrar aqueles dentro da rebelião que cometem excessos, de acordo com um vídeo postado no YouTube por um porta-voz do ESL (Exército Sírio Livre).

No campo de batalha, em Daraya, a sudoeste de Damasco, pelo menos dois civis foram mortos em bombardeios, enquanto foram relatados combates entre as tropas governamentais e insurgentes, segundo o OSDH.

A oeste de Aleppo, a metrópole do norte, os insurgentes tentaram tomar o controle de uma base aérea do governo, de acordo com a mesma fonte.

Segundo a agência oficial de notícias Sana, dez pessoas da mesma família foram mortas nesta terça-feira na cidade de Aleppo por rebeldes.

Em Damasco, dois morteiros atingiram o prédio do Ministério da Informação, sem causar vítimas, informou a SANA. Perto da fronteira com a Turquia, violentos confrontos foram travados entre os rebeldes e combatentes curdos em Ain al-Rass.

"Quatro combatentes e um vereador foram mortos entre os curdos e 24 morreram entre os rebeldes da Frente Al-Nusra e Gharba al-Sham", dois grupos islâmicos radicais, disse o presidente do OSDH, Rami Abdel Rahman.

Os combatentes curdos pertencem ao Comitê para a Proteção do Povo Curdo (YPG), o braço armado do Partido da União Democrática Curda (PYD, braço sírio do Partido dos Trabalhadores do Curdistão - rebeldes curdos-turcos). Eles são acusados pelos rebeldes sírios de ajudarem o regime.

A violência nesta terça-feira causou pelo menos 30 mortes, entre eles a de 14 civis, nove soldados e sete rebeldes, de acordo com uma avaliação preliminar do OSDH, uma ONG com sede na Grã-Bretanha, que conta com uma vasta rede de ativistas e fontes médicas através da Síria.

A guerra já custou mais de 39 mil vidas, a maioria de civis, desde março de 2011, segundo a ONG.