Damasco - Um duplo atentado suicida matou neste sábado 20 soldados no sul da Síria, no momento em que a oposição reunida em Doha é pressionada para se unificar contra o regime do presidente Bashar al-Assad.
No resto do país, continuavam os combates e bombardeios, especialmente na província de Damasco, palco de intensos enfrentamentos há vários dias, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que se baseia em informações de uma extensa rede de militantes e médicos no local.
Ao menos 101 pessoas morreram em meio à violência no país - 41 soldados, 34 civis e 26 rebeldes -, de acordo com um balanço provisório do OSDH.
Em Deraa (sul), ao menos 20 soldados perderam a vida na explosão de dois carros-bomba em um clube de oficiais, informou o OSDH. O ataque ainda não foi reivindicado.
Na província de Damasco, o Exército lançou uma ofensiva na cidade de Daraya e bombardeou outras localidades no início da noite. Em Damasco, várias bombas explodiram e um míssil caiu em um bairro cristão, matando duas meninas.
No nordeste do país, o regime perde cada vez mais terreno. Os combatentes curdos tomaram o controle durante a noite de sexta-feira ao sábado de duas cidades, Derbasiyé e de Tal Nemer, depois de terem negociado a passagem das forças governamentais, segundo o OSDH e militantes.
Primeiro navio atacado
Contudo, no noroeste, o Exército recuperou uma parte da estrada estratégica que liga Damasco a Aleppo, a grande metrópole do norte, mas sem conseguir retomar o controle da cidade de Maaret Al-Noomane, onde os combates com os rebeldes continuam, relatou o OSDH.
Nesta região, a agência oficial Sana relatou a destruição pelo Exército de um navio que transportava rebeldes pelo Eufrates. Esta é a primeira vez que a imprensa oficial evoca um incidente no rio que corta as cidades de Deir Ezzor, Raqqa e Bou Kamal, palco de combates.
Uma mostra que a violência se intensifica são os 11.000 sírios que fugiram do país, 9.000 deles refugiados na Turquia, em 24 horas, disse na sexta-feira Panos Moumtzis, responsável pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). Normalmente, cerca de 2.000 novos refugiados sírios são contabilizados por dia.
O presidente sírio, Bashar al-Assad, afirmou haver uma "guerra contra o terrorismo" e defendeu uma solução eleitoral para um conflito que já dura quase 21 meses e que deixou mais de 37.000 mortos e para o qual não se prevê nenhuma saída, em uma entrevista concedida a uma rede de televisão russa e cuja transcrição foi publicada na sexta-feira.
Otimismo em Doha?
A oposição, convocada pelos países árabes, pelas potências ocidentais e pelos rebeldes sobre o terreno a unificar-se, discute desde quinta-feira em Doha, sob a égide de Catar e da Liga Árabe, um projeto para unificá-la
Depois de dias de discussões em Doha, a oposição parece estar perto de um acordo sobre uma instância executiva unificada capaz de lidar com a comunidade internacional e canalizar ajuda, após pressões sobre o Conselho Nacional Sírio (CNS), que bloqueava sua adoção.
"A reunião ainda está em andamento, mas houve um progresso real. Haverá um acordo político para uma ação conjunta, uma instância política para supervisionar a ação militar", declarou o ex-chefe do CNS, Burhan Ghalioun.
"Se Deus quiser, vamos chegar a um acordo nesta noite", disse Salem Muslet, líder do CNS.
Com medo de ser marginalizado, o CNS expressou suas reservas sobre o projeto que envolve a formação de um sistema unificado de 60 membros que representam vários grupos de oposição, incluindo as do interior e formações militares.
Formalmente criado em outubro de 2011 e rapidamente considerado "interlocutor legítimo" pela comunidade internacional, o CNS tem sido muito criticado por sua falta de representatividade, em particular pelos Estados Unidos.