Damasco - Damasco foi alvo nesta terça-feira (30/10), pela primeira vez desde o início do conflito há 19 meses, de um ataque com caça-bombardeiro em um bairro rebelde da capital, assolada pela intensificação da violência com o assassinato de um general da Força Aérea.
Diante da deterioração do panorama, o mediador internacional Lakhdar Brahimi era esperado nesta terça-feira (30/10) na China, depois de visitar a Rússia, dois membros do Conselho de Segurança aliados do presidente Bashar al-Assad.
O ministro turco das Relações Exteriores, Ahmet Davutoglu, rejeitou o apelo de seu homólogo russo, Sergei Lavrov, aos países da região para iniciar um diálogo com o presidente Assad. O Qatar, que envia dinheiro e armas aos insurgentes, acusou o regime sírio de travar uma "guerra de extermínio" contra o seu povo.
"Pela primeira vez, a capital foi alvo de um caça-bombardeiro, que soltou ontem à tarde quatro bombas sobre o bairro de Jobar, no leste de Damasco", indicou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Esta organização com sede na Grã-Bretanha conta com uma rede de ativistas e médicos em hospitais civis e militares em todo o país.
Estrondos foram ouvidos em toda a cidade, segundo uma jornalista da AFP em Damasco.
Até agora, o regime utilizava apenas helicópteros para bombardear alguns bairros da capital.
ESL reivindica o assassinato de um general
Os serviços militares também bombardearam Douma, uma localidade rebelde ao norte da capital, causando "dezenas de mortos e feridos", segundo o presidente do OSDH Rami Abdel Rahman.
Um novo ataque aéreo contra Maaret al-Nooman custou a vida de quatro crianças e três civis nesta cidade estratégica entre Damasco e Aleppo,.
No momento em que os helicópteros e caças-bombardeiros se tornaram a principal arma do regime, o general Abdallah Mahmoud al-Khalidi, membro do comando geral da Força Aérea, foi assassinado no norte de Damasco.
O homem, "um dos melhores especialistas em aviação militar na Síria", segundo o canal oficial sírio, foi morto na segunda-feira baleado por "terroristas", segundo a agência de notícias oficial Sana. Damasco chama de "terroristas" os opositores e rebeldes que lutam contra o regime.
O Exército Sírio Livre (ESL) reivindicou em um comunicado no Facebook o assassinato desse oficial "responsável pelo treinamento da Força Aérea", assim como o de um sargento dos serviços de inteligência da Força Aérea.
O assassinato ocorre no dia em que a Força Aérea síria efetuou um dos bombardeios mais violentos desde a sua entrada em ação, no verão passado, com mais de 60 ataques durante a segunda-feira (29/10).
Guerra civil ou de extermínio
Ainda em Damasco, foram relatados confrontos entre rebeldes e palestinos pró-regime apoiados pelo Exército regular no campo de refugiados de Yarmouk, no sul da capital, onde vivem 148.500 palestinos, indicaram uma ONG e ativistas anti-Assad.
Os insurgentes enfrentaram até o amanhecer os militantes palestinos da Frente Popular para a Libertação da Palestina-Comando Geral (FPLP-CG) de Ahmad Jibril, um fiel aliado do regime sírio. Segundo os ativistas, o Exército chegou a ajudar a FPLP-CG.
O porta-voz dessa organização, Anwar Raja, indicou à AFP que a FPLP-CG tenta "impedir que o campo seja tomado e transformado em campo de batalha".
Há aproximadamente 510.000 refugiados na Síria registrados na UNRWA, a agência da ONU responsável pelos refugiados palestinos.
[SAIBAMAIS] No restante do país, Exército e rebeldes entraram em confronto em um bairro de Homs e em Rastan, cidade sitiada há meses pelo Exército regular, assim como em Aleppo, a metrópole do norte, onde os insurgentes atacam em três frentes no norte da cidade.
Foram contabilizados nesta terça-feira (30/10) pelo OSDH 36 mortos, entre eles 22 civis, oito soldados e seis rebeldes.
Enquanto isso, na Jordânia, a polícia anunciou a prisão de 61 sírios, que se dirigiam para a cidade de Maan, reduto islamita no sul do reino.
"Uma patrulha da polícia de Maan deteve hoje (terça-feira) três caminhões com 61 sírios, que estão atualmente sob custódia", segundo um comunicado da direção jordaniana de Segurança Pública.
"Uma investigação está em andamento para determinar a sua identidade e a finalidade da viagem", acrescenta o comunicado, sem dar mais detalhes.
Na segunda-feira (29/10), o mediador da ONU e da Liga Árabe reconheceu que a situação no país está pior, chegando a afirmar: "Se isto não é uma guerra civil, eu não sei o que é".
O primeiro-ministro do Qatar, Hamad bin Jassem Al-Thani, afirmou que a Síria estava em uma "guerra de extermínio" contra o seu próprio povo, "com uma licença para matar, em primeiro lugar do governo sírio, mas, em segundo lugar, da comunidade internacional", paralisada por divisões.
Em Pequim e Moscou, Brahimi tentará mais uma vez convencer os líderes a retirar sua oposição a uma ação do Conselho de Segurança da ONU.