Paris - O ex-corretor da bolsa, o francês Jerôme Kerviel, foi condenado nesta quarta-feira (24/10) a cinco anos de prisão, sendo dois condicionais, e a pagar 4,9 bilhões de euros por perdas e danos pela corte de apelações de Paris, que o considerou responsável por provocar um prejuízo recorde para seu banco, o Société Générale, em 2008.
O veredicto é o mesmo pronunciado contra Kerviel em primeira instância.
Pouco depois de a sentença ser anunciada, Kerviel anunciou que apresentará um recurso no tribunal de cassação.
"Estou totalmente arruinado, não compreendo o veredicto pronunciado, apresentarei um recurso em cassação sem dúvida", disse Kerviel à emissora RTL.
Seu advogado, David Koubbi, tinha denunciado uma "injustiça lamentável" e afirmado que estudaria com seu cliente a possibilidade de apresentar esse recurso.
Kerviel, de 35 anos de idade, deixou a corte discretamente após a sentença. O tribunal não tinha emitido ordem de prisão durante a audiência e, já que o recurso em cassação é suspensivo na legislação francesa, Jérôme Kerviel não será preso imediatamente.
Em 2010, o ex-corretor da Bolsa já tinha sido condenado a cinco anos em primeira instância, dois deles em liberdade condicional, e a pagar ao banco a mesma quantia astronômica, correspondente à perda que o estabelecimento afirma ter sofrido por sua culpa.
O Société Générale apelou da quantia já que Jérôme Kerviel, de família modesta e sem emprego, nunca poderá pagá-la. O banco informou imediatamente após o veredicto ter sido anunciado que será realista e estudará a situação de seu ex-funcionário.
[SAIBAMAIS] Jérôme Kerviel é acusado de ter realizado operações especulativas envolvendo quantias colossais nos mercados de risco sem a autorização de seus superiores no banco e de ter evitado os relatórios da empresa com operações fictícias, documentos falsos e mentiras.
Ele foi processado por abuso de confiança, falsificação de documentos e introdução fraudulenta de dados no sistema de informática do banco.
Seu caso fez com que a Société Générale demitisse vários executivos e pagasse uma multa de quatro milhões de euros pelas carências de seus sistemas de controle.
Contudo, Jérôme Kerviel foi o único acusado pelo caso que fez o mundo das finanças tremer e quase afundou o banco.
Kerviel se declarou inocente, admitindo que passou dos limites e perdeu o sentido da realidade, mas se descrevendo como um hamster em sua roda e afirmando que seu único objetivo era fazer o banco ganhar dinheiro.
Ele alegou que seus superiores sabiam que estava atuando além de suas funções e que realizava operações especulativas, e se disse vítima de um complô: o banco teria encoberto suas posições a fim de, quando o momento chegasse, atribuir a ele a responsabilidade pelas perdas devido aos créditos hipotecários de risco (subprimes) americanos, que desencadearam a crise financeira mundial de 2008.
De fato, no dia 24 de janeiro desse ano, quando a Société Générale revelou a "fraude" de 4,9 bilhões de euros, acusando Jérôme Kerviel, anunciou também 2 bilhões de perdas devido às subprimes.
Contudo, a investigação não revelou um complô e a teoria foi considerada absurda pelo ex-presidente do banco, Daniel Bouton.
Algumas testemunhas, entre elas um funcionário de uma filial do Société Générale, defenderam essa tese no tribunal, mas não provaram.
Paralelamente a este julgamento, o advogado de Kerviel apresentou duas ações contra a Société Générale por estafa e falsificação, acusando o banco de não ter informado ao tribunal que tinha recuperado, graças a um mecanismo fiscal, 1,7 dos 4,9 bilhões perdidos.
O banco respondeu apresentando uma ação por denúncia caluniosa. Estas ações são objetos de investigações ainda em curso.