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Enviado para a Síria diz que governo e maioria dos rebeldes aceitam trégua

Damasco - O enviado para a paz na Síria, Lakhdar Brahimi, afirmou nesta quarta-feira (24/10) que o governo sírio e a maioria dos chefes rebeldes concordaram com uma trégua durante o feriado muçulmano desta semana, aumentando as esperanças de um avanço significativo no conflito, embora este ainda seja um "pequeno passo".

O governo sírio afirmou que seus líderes militares estão estudando a proposta de uma trégua para um conflito que deixa mais de 100 mortos por dia, ressaltando que a decisão final será anunciada na quinta-feira. Já o Exército Livre da Síria (FSA), principal grupo rebelde que tenta derrubar o regime do presidente Bashar al-Assad, indicou que acatará um cessar-fogo durante os quatro dias do feriado do Eid al-Adha, que começa na sexta-feira, se as forças do governo interromperem seus ataques primeiro.

"O governo sírio concordou com um cessar-fogo" durante o Eid al-Adha, afirmou Brahimi à imprensa no Cairo, acrescentando que a maioria dos líderes rebeldes contactados também afirmou que irá respeitar a trégua. "Se tivermos êxito com esta iniciativa modesta, um cessar-fogo mais longo poderá ser construído", o que permitiria o lançamento de um processo político, afirmou Brahimi após uma reunião com o chefe da Liga Árabe, Nabil al-Arabi.

Posteriormente, em uma apresentação ao Conselho de Segurança da ONU, o enviado de paz ressaltou que um cessar-fogo no país seria um "pequeno passo" em direção a uma solução, embora não esteja certo de que a ação será bem-sucedida, de acordo com diplomatas presentes na reunião. Brahimi também apelou por apoio unânime em seus esforços para obter uma trégua, alertando que novas divergências entre os 15 Estados integrantes do Conselho podem piorar o conflito, que já dura 19 meses. O enviado de paz ressaltou ainda que o governo sírio anunciará oficialmente a sua aceitação na quinta-feira.

O Ministério das Relações Exteriores da Síria informou em um comunicado que "o comando do Exército está estudando a suspensão das operações militares durante o feriado do Eid, e a decisão final será tomada amanhã (quinta-feira)". Os rebeldes, no entanto, permanecem céticos obre a real intenção das tropas do regime em respeitar uma trégua. "O FSA vai parar de disparar se o regime parar", afirmou o chefe do conselho militar do FSA, general Mustafa al-Sheikh. Mas, segundo ele, o regime "mentiu muitas vezes antes. É impossível que o regime implemente a trégua, mesmo dizendo que vai".

[SAIBAMAIS]Na contramão dos anúncios feitos, a Frente Al-Nusra, um dos principais grupos insurgentes, indicou nesta quarta que não vai respeitar o cessar-fogo. "Não há trégua entre nós e este regime transgressor que está derramando o sangue dos muçulmanos," indicou o grupo em um comunicado reportado pelo serviço de monitoramento de inteligência americano SITE. "Nós, com a graça de Alá, não estamos entre aqueles que dão uma chance a conspiradores para que nos enganem," anunciou na internet o grupo, que já assumiu a autoria de vários atentados suicidas na Síria.



A obtenção desta trégua seria o avanço mais importante desde que o conflito se espalhou por todo o país provocando uma guerra civil que, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, já deixou mais de 35.000 mortos. O antecessor de Brahimi no posto de enviado de paz para a Síria, Kofi Annan, anunciou um cessar-fogo em abril, dois meses depois de ser nomeado, mas sua iniciativa não suportou por muito tempo.

Violência aumenta, apesar do anúncio

O importante anúncio de Brahimi foi feito em meio a uma intensificação da violência, com pelo menos 50 mortos em todo o país nesta quarta-feira, segundo o Observatório, com sede na Grã-Bretanha. Seis pessoas morreram e vinte ficaram feridas na explosão de um carro-bomba em um bairro do sul de Damasco, indicou a rede de televisão oficial síria, que acusou os "terroristas". "A explosão terrorista de um carro-bomba no bairro de Daf al-Shoq deixou seis mortos e vinte feridos e causou danos materiais no local", informou o canal. O grupo de monitoramento disse que 16 civis foram mortos em Douma, na província de Damasco, e que oito soldados perderam a vida na explosão de um carro na província de Raqa, perto da fronteira com a Turquia.

A cidade de Maaret al-Nooman, em poder dos rebeldes, foi atacada por aviões, disse o Observatório, mesmo com os esforços de Brahimi de preparar um documento para informar o Conselho de Segurança da ONU sobre seus esforços de cessar-fogo. Os dois lados estão disputando em Maaret al-Nooman o controle de uma base militar importante e de um trecho da estrada que liga Damasco e Aleppo, a segunda maior cidade do país. O Observatório indicou que o Exército Livre da Síria e a Frente Al-Nusra, um grupo islâmico, lideravam o ataque contra à base de Wadi Deif, perto da cidade na província de Idlib.

Cinco membros da mesma família, incluindo uma mulher e uma criança, foram mortos em um ataque aéreo na cidade de Maaret Shamirin, segundo o Observatório. O OSDH informou ainda sobre ataques aéreos mais ao sul tendo como alvo Irbin e Harasta, no subúrbio de Damasco, onde quatro rebeldes foram mortos em confrontos, e acrescentou que vários distritos de Aleppo também sofreram ataques aéreos.

Em Moscou, o general Nikolai Makarov disse nesta quarta-feira que os rebeldes possuíam sistemas de mísseis lançados do ombro capazes de abater aeronaves, incluindo Stingers produzidos pelos Estados Unidos. "Temos informações de que os rebeldes que lutam contra o Exército sírio possuem mísseis terra-ar de vários tipos, incluindo Stingers", explicou Makarov, citado pela agência de notícias Interfax.