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ONU planeja formar força de paz, em caso de cessar-fogo na Síria

A ONU faz planos para uma possível força de paz na Síria, em caso de um cessar-fogo durável no terreno, enquanto um alto funcionário da Liga Árabe considerou nesta segunda-feira (22/10) serem mínimas as chances de uma trégua nesta semana.

O chefe das operações de manutenção de paz das Nações Unidas, Hervé Ladsous, acenou com a possibilidade do envio de uma força de paz "se um cessar-fogo e uma solução política surgirem", com o objetivo de "contribuir para a segurança e a proteção dos civis". Essa declaração coincidiu com a visita a Damasco do mediador da ONU e da Liga Árabe para a Síria, Lakhdar Brahimi.

Após a reunião no domingo com o presidente Brashar al-Assad, Brahimi fez um apelo para que as duas partes em conflito na Síria proclamem um cessar-fogo em ocasião da festa muçulmana do Eid Al-Adha, que começa na sexta-feira.

Ele ressaltou que esta se trata de uma "iniciativa pessoal" e não de um detalhado plano de paz com o objetivo de conter a violência, que causou, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), 34.000 mortes desde o início de uma revolta que se militarizou, em março de 2011.

[SAIBAMAIS] No entanto, o secretário-geral adjunto da Liga Árabe, Ahmad ben Hilli, não está otimista quanto à possibilidade de um cessar-fogo. "Infelizmente, a esperança de estabelecer uma trégua na Síria para a festa é muito pequena até o momento", declarou Hilli. "Os sinais no terreno e a reação do governo sírio (...) não são mostras de uma vontade real de uma resposta positiva a esta iniciativa", explicou.

Mas a ONU ressaltou que está se "preparando para agir se for necessário e se um mandato for aprovado" pelo Conselho de Segurança para o envio de uma força de paz, segundo Ladsous.

Mesmo com a improvável trégua, o Conselho teria ainda que superar suas divisões para aprovar uma iniciativa como essa. Entre os 15 membros da organização, Rússia e China protegem sua aliada síria de qualquer pressão utilizando seu poder de veto.

Confrontos prosseguem

No terreno, as tropas do regime continuam com as tentativas de retomar o controle sobre várias localidades dominadas pelos rebeldes nas províncias de Idleb (noroeste), Aleppo (norte), Damasco, Deraa (sul) e Homs (centro), segundo o OSDH.

O Exército bombardeou bairros de Damasco onde os rebeldes estão entrincheirados, como em Harasta, Irbine e Zamalka.

Na província de Idleb, os confrontos foram travados perto da base militar de Wadi Deif, sitiada pelos rebeldes. Esta base está localizada na periferia de Maaret al-Nooman, uma cidade estratégica bombardeada desde o início desta manhã pelas tropas do regime.

Nesta segunda-feira (22/10), 84 pessoas, entre elas 22 civis, 37 soldados e 25 rebeldes, foram mortas em meio à violência em todo o país, segundo um registro provisório do OSDH, que relatou a morte de um grande número de soldados nos últimos dez dias.

Além disso, o procurador-geral da província de Deraa, no sul da Síria, Tayssir Smadi, foi sequestrado, de acordo com o OSDH e a agência oficial Sana, que acusou "um grupo terrorista", termo utilizado pelo regime para designar os opositores e os rebeldes.

Para Brahimi, Assad reiterou no domingo que qualquer iniciativa política deve ser fundada "no fim do terrorismo (...), com o compromisso de alguns países envolvidos, de deixar de abrigar, apoiar e armar os terroristas da Síria".

O regime de Damasco acusa o Qatar, a Arábia Saudita e a Turquia de apoiar militarmente os rebeldes.

Já a oposição afirmou que aceitaria o cessar-fogo, contanto que o regime suspenda com seus ataques.

No campo diplomático, o representante especial do presidente russo Vladimir Putin, Mikhail Bogdanov, viajou nesta segunda-feira para o Irã para discutir o conflito sírio. Teerã e Moscou apoiam o regime de Assad e rejeitam qualquer ingerência estrangeira no país.

Brahimi deve viajar a Moscou "em uma semana", segundo o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov.

Além disso, o Vaticano confirmou que uma delegação de alto nível chegará "o quanto antes" à Síria, a pedido do Papa Bento XVI, para expressar a solidariedade da Igreja para com o povo sírio.

Enquanto Brahimi advertiu para a possibilidade de um transbordamento do conflito sírio, caso uma solução não seja encontrada rapidamente, um soldado jordaniano foi morto nesta segunda-feira em um confronto com homens armados que tentaram se infiltrar na Síria.

E no Líbano, o Exército declarou que está determinado a "preservar a paz civil", após a violência que se seguiu a um ataque mortal atribuído pela oposição ao regime sírio.