Damasco - O mediador internacional Lakhdar Brahimi fez um apelo neste domingo para que as duas partes em conflito na Síria proclamem um cessar-fogo, após uma reunião com o presidente Brashar al-Assad em Damasco, onde um bairro cristão foi alvo de um atentado. Este pedido de Brahimi acontece quando as violências, que já deixaram mais de 34 mil pessoas mortas, não mostram sinais de diminuição e que os especialistas se mostram céticos quanto a possibilidade de uma trégua. "Peço a todos, a cada sírio, nas ruas, nas aldeias, aos combatentes no exército regular sírio e aos opositores, que tomem uma decisão unilateral de cessar as hostilidades por ocasião do Aid al Adha (celebrada entre os dias 26 e 28 de outubro) e que essa trégua seja respeitada a partir de hoje ou amanhã", afirmou à imprensa após a reunião.
[SAIBAMAIS]Brahimi, emissário da ONU e da Liga Árabe, afirmou que esta se trata de uma iniciativa pessoal e não de um detalhado plano de paz. Depois assinalou que entrou em contato com os dirigentes da oposição civil dentro e fora da Síria e com grupos armados dentro do país. "Encontramos uma recepção muito favorável ao nosso chamado", afirmou. "Voltaremos à Síria depois do Aid e, se realmente for instaurada a calma durante a festa, continuaremos trabalhando para conseguir uma trégua duradoura", acrescentou, após o seu segundo encontro com Assaf desde que assumiu suas funções.
Assad afirmou ao emissário que está "aberto a todos os esforços sinceros para uma solução política à crise, baseada na rejeição a qualquer ingerência estrangeira", segundo a agência oficial Sana. Ele também considerou que toda iniciativa política deve ser fundada "no fim do terrorismo (...) com o compromisso de alguns países envolvidos, de deixar de abrigar, apoiar e armar os terroristas da Síria".
Damasco considera como "terroristas" opositores e rebeldes desde o início, em março de 2011, de uma revolta reprimida por suas tropas, e acusa o Qatar, Arábia Saudita e a Turquia de apoiá-los. O mediador internacional ainda encontrou em Damasco os embaixadores da Rússia e da China, dois grandes aliados do regime.
Atentado e combates em Damasco - No terreno, a trégua parece um conceito distante. Neste domingo, treze pessoas morreram e outras 29 ficaram feridas na explosão ocorrida diante de uma delegacia de polícia de um bairro cristão no setor antigo de Damasco, segundo a SANA. Um habitante relatou à AFP que a explosão foi tão forte "que a minha casa localizada a 1km de distância tremeu".
Este é o primeiro atentado ocorrido neste bairro, um dos mais antigos da capital. Por temer os islamitas, a hierarquia cristã e boa parte desta comunidade tomou partido do regime de Bashar al Assad. Nos subúrbios rebeldes de Damasco e em Aleppo os violentos confrontos prosseguiam entre o exército e os rebeldes. O regime bombardeou a cidade de Harasta, 10 km a nordeste da capital, as plantações da cidade vizinha de Duma, a localidade de Zamalka e os povoados de Ghuta oriental.
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Em Aleppo, um carro-bomba explodiu no bairro de Al Sirian, provocando feridos, enquanto que vários outros bairros, entre os quais Bab al-Nasr e Qastal, foram bombardeados. No total, neste domingo, ao menos 118 pessoas morreram, entre elas 52 civis, 24 rebeldes e 42 membros das forças do regime, em toda a Síria, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
No vizinho Líbano, milhares de pessoas participam neste domingo, em Beirute, em uma manifestação em massa contra Damasco por ocasião dos funerais de um alto chefe da polícia, assassinado na sexta-feira. A oposição libanesa acusou o regime de Bashar Al Assad pelo assassinato. O poder em Damasco denunciou um "ato covarde e terrorista", mas não reagiu publicamente às acusações da oposição libanesa.