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Brahimi pede trégua em Damasco, enquanto conflito ameaça o Líbano

Damasco - O emissário internacional Lakhdar Brahimi encontrou neste sábado, em Damasco, o chefe da diplomacia síria com o objetivo de obter um cessar-fogo, enquanto as autoridades sírias afirmaram que a única maneira de superar o conflito é um diálogo nacional e sem ingerências. Durante a reunião, Walid Muallem e Brahimi discutiram sobre "o fim da violência (...) e a preparação do clima em vista de um diálogo global sírio, que segundo o governo é a única forma de sair (da crise), longe de qualquer intervenção estrangeira", indicou a chanceleria em um comunicado.

Os diplomatas também conversaram sobre as obrigações das demais partes regionais que "dificultam a missão de Brahimir ao continuar abrigando, armando e treinando os grupos terroristas armados", afirmou o ministério das Relações Exteriores, que considerou a reunião como "construtiva e séria".

Brahimi também se reunirá com o presidente Bashar al-Assad, em uma data ainda não definida, enquanto a violência fez na sexta-feira pelo menos mais 133 mortes, de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). O emissário internacional também se encontrou como membros da oposição tolerada pelo regime, entre eles Hasan Abdel Azim, porta-voz do Comitê de Coordenação para a Mudança Nacional e Democrática (CCCND). Abdel Azim afirmou que o CCCND, que reúne partidos nacionalistas árabes, curdos e socialistas, é favorável à proposta de trégua.

[SAIBAMAIS]A visita do mediador ocorre no momento em que presidente Assad foi apontado como responsável pelo ataque que matou o chefe da inteligência da polícia libanesa em Beirute, o que provocou condenações internacionais. Brahimi, que tenta estabelecer uma trégua durante a festa muçulmana de Al-Adha, celebrada entre os dias 26 e 28 de outubro, mais uma vez alertou para a possibilidade de um avanço do conflito.

"Se a crise síria continuar, não se restringirá à Síria. Vai afetar toda a região", alertou, em Amã, segundo comentários divulgados pela agência estatal Petra. O conflito que atinge a Síria há mais de 19 meses já chegou à Turquia no início de outubro. Sexta-feira, Ancara respondeu mais uma vez a um disparo de dois morteiros sírios em seu território. Não foram registradas vítimas, informou a emissora pública TRT.

O exército turco responde a todo disparo sírio desde que em 3 de outubro a queda de um morteiro matou cinco civis no vilarejo turco de Akçakale, perto da fronteira com a Síria .

Interromper a violência para o Eid al-Adha

Damasco declarou na terça-feira que estava pronto para considerar a proposta de trégua de Brahimi, enquanto a oposição concordou com um cessar-fogo com a condição de que o regime pare com os bombardeios primeiro.



Em sua chegada, Brahimi indicou que os diálogos vão se concentrar sobre "a necessidade de reduzir a violência atual e, se possível, sobre a trégua por ocasião do Eid al-Adha", a festa do sacrifício, um dos feriados mais sagrados dos muçulmanos.

Em uma declaração conjunta, os chefe da ONU, Ban Ki-moon, e da Liga Árabe, Nabil al-Arabi, exortaram a "todas as partes em conflito na Síria para atender o pedido" de Brahimi, ressaltando que a trégua deve ser de longo prazo e precisa preparar o caminho para "um processo político pacífico".

Mas no terreno, o Exército sírio bombardeou novamente na manhã deste sábado a região de Maaret al-Noomane, uma cidade estratégica controlada pelos rebeldes no noroeste da Síria, enquanto os combates prosseguem na estrada que liga Damasco e Aleppo, segundo o OSDH.

Confrontos de intensidade média foram registrados nos arredores de uma base militar cercada por insurgentes armados perto de Maaret al-Noomane, constatou um jornalista da AFP. Rajadas de armas automáticas e explosões foram ouvidas em intervalos regulares a partir da base de Wadi Deif.

O OSDH, que se baseia em uma ampla rede de médicos e ativistas, acrescentou que há combates "ferozes entre tropas do governo e combatentes rebeldes, que atacaram um comboio militar na estrada de Damasco/Aleppo, no sul da cidade de al-Maaret Noomane".

Os rebeldes cortaram há 10 dias essa estrada entre as duas principais cidades do país, após assumir o controle de uma parcela de cerca de cinco quilômetros da rodovia, crucial para a passagem de reforços do Exército. Uma tranquilidade precária prevalece em Maaret al-Noomane, o que para alguns não é um sinal bom, e pode até mesmo anunciar uma nova chuva de bombas e granadas sobre a cidade.

Na região de Damasco, colunas de fumaça subiram na manhã deste sábado de residências policiais, enquanto tiros foram ouvidos, segundo a OSDH. Violentos combates perto da cidade de Erbine, 7 km a nordeste de Damasco, também foram relatados. Sexta-feira, 37 corpos foram encontrados em um cemitério de Deir Ezzor (leste), alguns esquartejados e outros queimados.

Os temores de um avanço do conflito em toda região aumentaram após um ataque mortal em Beirute, atribuído pela oposição libanesa ao regime de Assad.

O líder da oposição libanesa, Saad Hariri, acusou o chefe de Estado do assassinato do chefe da inteligência da polícia, o general Wissam al-Hassan, que foi morto no ataque, mas Damasco denunciou um ato "terrorista" descrito como "injustificável".

O ataque, que provocou temores de um retorno dos assassinatos de personalidades libanesas hostis ao regime sírio, como o que atingiu o Líbano entre 2005 e 2008, foi condenado de forma unânime pela comunidade internacional.