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Bolívia comemora 30 anos de retorno à democracia, com grandes desafios

La Paz - A Bolívia comemora nesta quarta-feira (11/10) 30 anos da retomada da democracia depois de quase duas décadas de ditaduras militares, com uma inédita estabilidade política e grandes desafios no plano institucional, social e econômico, segundo o governo e especialistas.

O presidente Evo Morales, o primeiro indígena que chegou ao poder na Bolívia, considerou em uma cerimônia realizada nesta quarta-feira que a sociedade deve avançar no "aprofundamento da democracia".

"Queria que os vizinhos, as câmaras municipais vizinhas estivessem bem organizadas com a participação de distintos órgãos do Estado que debatam e supram necessidades importantes", disse o presidente.

Apesar de na democracia boliviana "ainda restar questões pendentes como a falta de independência de poderes, é quase impossível o retorno dos militares ao poder de fato", disse à AFP o advogado Waldo Albarracín, ativista de direitos humanos e ex-promotor.

"No plano econômico-social devem ser feitos todos os esforços para extinguir as assimetrias, as desigualdades sociais, especialmente quanto à qualidade de vida", ao mesmo tempo em que considerou essencial "a independência dos poderes do Estado (Executivo, Legislativo, Judicial e Eleitoral)".

Depois de três décadas, a democracia boliviana parece estar plenamente consolidada, apesar de momentos críticos que ameaçaram sua estabilidade, como em 2003, quando uma rebelião popular obrigou o liberal Gonzalo Sánchez de Lozada a renunciar.

Ficaram para trás os anos em que a Bolívia era o exemplo de instabilidade política na América do Sul onde carregava o duvidoso recorde de ter tido quase 200 golpes de estado desde sua fundação, em 1825, ao longo de sua vida republicana.

Depois de um longo período de ditadura, de 1964 até 1981, com breves e precários governos civis, sempre derrotados pelos militares, no dia 10 de outubro de 1982 o advogado Hernán Siles Zuazo assumiu em condições adversas e um boicote político e social sem precedentes.

Três anos depois, Siles Zuazo teve que renunciar pressionado por uma forte pressão social fruto de uma economia descontrolada pela hiperinflação.

Além de celebrar as conquistas da democracia, a Igreja católica lembrou a importância de "manter uma atitude de rejeição ao confronto de bolivianos contra bolivianos e toda forma de violência" e destacou como um assunto central "tornar efetivos os direitos fundamentais das pessoas à educação, à saúde e à autodeterminação dos povos".

[SAIBAMAIS] Como uma mostra dos avanços democráticos, os ex-presidentes Jaime Paz Zamora (1989-1993, social democrata), Jorge Quiroga (2001-2002, direita), Carlos Mesa (2003-2005, centro) e Eduardo Rodríguez (2005, independente) lembraram a data em um comunicado conjunto.

"Celebrar as conquistas democráticas, é manter uma atitude de oposição ao confronto de bolivianos contra bolivianos e toda forma de violência. Convocamos a todos (...) a promover sempre, a cultura da paz, o diálogo e acordos de unidade social que nos tornem melhores cidadãos", disseram.

A data foi comemorada também pelo escritório local da ONU que disse que "a democracia ainda tem pela frente muitos desafios a resolver", entre eles a desigualdade social. "Cerca de um quarto da população continua vivendo em extrema pobreza e as mulheres e crianças continuam sofrendo níveis elevados de violência e insegurança".

Os anos de ditadura na Bolívia deixaram mais de meio milhar de mortos e uma centena de desaparecidos, segundo organizações de defesa dos direitos humanos.