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Atentado atinge segurança síria, enquanto rebeldes tomam cidade estratégica

Damasco - Dezenas de pessoas morreram em um duplo atentado suicida com carros-bomba contra uma sede dos serviços de inteligência da Força Aérea da Síria, próximo a Damasco, indicou nesta terça-feira (9/10) uma ONG síria, enquanto os rebeldes tomaram uma cidade estratégica no norte do país.

Uma fonte dos serviços de segurança sírios assegurou que os atentados não atingiram o alvo, embora um dos veículos tenha explodido nas proximidades do edifício militar, deixando um número indeterminado de pessoas feridas.

Diante da escalada da violência, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu que o regime sírio decrete um cessar-fogo unilateral e lançou um apelo para que as forças da oposição respeitem a trégua.

Setenta e duas pessoas, entre elas 20 civis, morreram nesta terça-feira, segundo um registro provisório do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

O ataque contra a Segurança ocorreu na noite de segunda-feira na localidade de Harasta, 10 km a nordeste de Damasco. Ele foi reivindicado pela Frente al-Nosra, um grupo extremista islâmico que já assumiu a autoria de vários atentados recentes no país.

"Dezenas de pessoas morreram no ataque contra a sede dos serviços de inteligência, e ignora-se o destino de centenas de prisioneiros que se encontravam ali", afirmou o diretor do OSDH, Ramin Abdel Rahman.

Segundo Rahman, a sede atacada é o maior centro de detenção da província de Damasco e as duas explosões foram registradas com um intervalo de cerca de 20 minutos.

Silêncio oficial

As autoridades não reagiram ao ataque, que não foi mencionado pelos meios de comunicação oficiais.

Segundo a Frente Al-Nosra, "um veículo com nove toneladas de explosivos (...) destruiu o prédio", posteriormente, outro "herói mártir detonou uma ambulância transportando uma tonelada de explosivos".

Mas uma fonte da segurança afirmou que os guardas dispararam contra o primeiro veículo antes que ele entrasse no local. Ainda assim, o carro explodiu, causando grandes estragos.

O segundo motorista foi interceptado, de acordo com a mesma fonte. Ela indicou que após cinco horas de combate os extremistas foram expulsos do local.

Cidade estratégica nas mãos dos rebeldes

Os rebeldes assumiram o controle de uma cidade estratégica no norte da Síria, entre Damasco e Aleppo, afirmou Abdel Rahman. Segundo ele, "as forças regulares se retiraram de todos os postos de controle de Marret al-Nooman, à exceção de um na entrada da cidade, ao final de 48 horas de combates".

Maaret al-Nooman é estratégica por estar situada na estrada que liga Damasco a Aleppo, por onde a passagem de reforços é obrigatória. As regiões rurais localizadas a leste e a oeste desta cidade na província de Idleb já estão em poder da rebelião.

Em Aleppo, os bombardeios do Exército foram dirigidos contra os bairros de Al-Kalassé e Bustan el-Qasr.

A tensão é tangível entre rebeldes e combatentes curdos que controlam o bairro de Maksoud.

[SAIBAMAIS] O morador Abu Mohammad, de 50 anos, afirmou que dois disparos atingiram Bustan el-Qasr, matando dois operários e ferindo quatro.

"Desde que nossos combatentes impediram os rebeldes de entrar em nosso bairro, somos alvo de disparos"., acrescentou.

Em Homs, as tropas leais a Assad entraram no bairro rebelde de Khaldiyé, "onde enfrentam os terroristas", indicou a televisão estatal.

"Se o Exército tomar o bairro, será uma catástrofe para as 800 famílias de lá", ressaltou um militante no local.

Um campo de refugiados administrado por rebeldes

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Ao considerar que "a situação atinge um estágio inaceitável", Ban Ki-moon afirmou que "fez com que o governo sírio compreendesse que deve declarar imediatamente um cessar-fogo unilateral".

O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, pediu por sua vez que Turquia e Síria "evitem uma escalada" da tensão entre os dois países após uma nova resposta do Exército turco a um disparo sírio em seu território.

O chefe de Governo turco reiterou nesta terça-feira que seu país responderá sistematicamente a todo ataque sírio, enquanto o chefe do Estado-Maior, o general Necdet Ozel, inspecionou suas tropas na fronteira.

No plano humanitário, as transferências de refugiados, instalados em um acampamento ao longo da fronteira turca, começou hoje para um campo especialmente criado na cidade vizinha de Qah para receber até 5.000 refugiados, constatou um jornalista da AFP.

É o primeiro campo organizado em territórios controlados pela rebelião, enquanto a Síria mergulha cada dia mais na guerra civil .