Akçakale, Turquia - A Turquia obteve nessa quinta-feira (4/10) luz verde de seu Parlamento para manter as represálias militares contra a Síria no dia seguinte ao bombardeio à localidade turca de Akçabale (sudeste), mas assegurou que não deseja a guerra com sua vizinha.
Após várias horas de debates a portas fechadas, a Assembleia Nacional turca, onde o partido do primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, possui uma confortável maioria, autorizou formalmente o governo a realizar operações militares na Síria em nome da "segurança nacional".
[SAIBAMAIS]Apesar disso, Erdogan tentou tranquilizar aqueles que veem nesta autorização o risco de uma perigosa escalada militar e afirmou que a Turquia não quer declarar guerra à Síria.
"Tudo o que queremos nesta região é paz e segurança. Essa é a nossa intenção. Não temos a intenção de desencadear uma guerra com a Síria", declarou Erdogan em Ancara durante uma entrevista coletiva conjunta com o primeiro vice-presidente iraniano, Mohamed Reza Rahimi.
O primeiro-ministro destacou o papel dissuasivo da resolução votada por el Parlamento estimando que "uma das melhores formas de evitar uma guerra é uma dissuasão eficaz".
"A República Turca é um Estado que é capaz de proteger seus cidadãos e suas fronteiras. Que ninguém se atreva a pôr à prova nossa determinação neste ponto", advertiu.
O vice-primeiro-ministro turco, Besir Atalay, ressaltou que a Síria havia admitido a responsabilidade pelos disparos de quarta-feira, que causaram a morte de cinco civis turcos, e pedido desculpas.
O embaixador sírio na ONU, Bashar Jaafari, afirmou que a Síria "não busca uma escalada com nenhum de seus vizinhos, incluindo a Turquia".
Essas declarações foram feitas no momento enquanto o Exército turco efetuava nesta quinta de manhã uma nova série de disparos de artilharia contra posições do Exército sírio nos arredores do posto fronteiriço sírio de Tall al-Abyad, perto de Akçabale, após a resposta imediata aos ataques de quarta-feira à noite.
De acordo com uma fonte de segurança local, os bombardeios foram interrompidos pela manhã, mas poderiam ser retomados a qualquer momento, "se necessário".
Condenação unânime
Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), a resposta militar turca, dirigida principalmente contra Rasm al-Ghazal, perto de Tall al-Abyad, provocou a morte "de vários soldados sírios".
O incidente de Akçakale foi condenado pelos Estados Unidos e pela Otan, que manifestaram sua solidariedade inquebrantável a Ancara, um dos 28 países membros da Aliança Atlântica.
Washington também considerou "apropriada" e "proporcional" a resposta turca aos disparos sírios.
"Do nosso ponto de vista, a resposta da Turquia tem sido apropriada", disse a porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland, ressaltando que Ancara havia alertado em várias oportunidades que responderia a qualquer violação de seu território.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas condenou nesta quinta-feira, "nos termos mais fortes, os disparos de artilharia de forças sírias" contra um povoado turco próximo à fronteira comum.
Um "comunicado" dos 15 países membros do Conselho "exige que estas violações das leis internacionais se detenham imediatamente e não voltem a se repetir".
Ancara havia pedido uma ação firme do Conselho de Segurança após tiros de morteiro atingirem na quarta-feira o povoado turco de Akçakale, situado nas imediações do posto fronteiriço sírio de Tall al-Abyad. As explosões deixaram cinco civis mortos e 11 feridos.
A Turquia respondeu ao ataque com disparos de artilharia contra posições do Exército sírio na quarta-feira à noite e nesta quinta de manhã, e segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), a reação militar turca, dirigida principalmente contra Rasm al-Ghazal, perto de Tall al-Abyad, provocou a morte "de vários soldados sírios".
O Conselho "pede ao governo sírio que respeite totalmente a soberania e a integridade territorial de seus vizinhos" e "apela à moderação".
O embaixador da Guatemala, Gert Rosenthal, que preside o Conselho de Segurança durante o mês de outubro, destacou que a mensagem é "dirigida aos dois países", mas a maioria do comunicado se refere à Síria.
"Este incidente ilustra o grave impacto que a crise na Síria tem na segurança de seus vizinhos e na estabilidade e paz da região", conclui o texto.
O "comunicado", que é menos severo que uma "resolução" do Conselho, foi publicado apenas algumas horas após tensas negociações entre os sócios ocidentais de Turquia e Rússia, o último um aliado de longa data do regime em Damasco.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, expressou a sua preocupação com a "escalada das tensões na fronteira" sírio-turca e pediu "a todas as partes envolvidas (...) que mostrem máxima moderação", indicou nesta quinta-feira seu porta-voz, Martin Nesirky.
Na Síria, o Exército regular bombardeou incessantemente nesta quinta-feira várias regiões onde estão entrincheirados os rebeldes, que intensificaram seus ataques às forças do regime. Segundo o OSDH, 40 soldados morreram, 21 deles membros do corpo de elite da Guarda Republicana.
No total, pelo menos 97 pessoas -36 civis, 40 soldados e 21 rebeldes- morreram nesta quinta-feira vítimas da violência no país, segundo um registro provisório do OSDH.