Ancara - A autorização do Parlamento turco dada nesta quinta-feira (4/10) ao governo para realizar operações militares na Síria tem como objetivo dissuadir o regime sírio a manter os ataques à Turquia, que espera evitar uma escalada que a levaria a uma guerra com sua vizinha.
Depois da perda de um de seus aviões de combate derrubados pela defesa síria em junho, os disparos sírios na quarta-feira contra o vilarejo fronteiriço de Akçakale, que causaram a morte de cinco pessoas, marcaram para a Turquia o momento de represálias contra o poder sírio.
"É um incidente muito grave que passou do limite", disse na quarta-feira (3/10) à noite, logo depois do bombardeio, o vice-primeiro-ministro, Besir Atalay, para resumir a irritação de seu país.
O Exército turco passou à ação e efetuou bombardeios a posições do Exército sírio nas imediações do posto fronteiriço de Tall al-Abyad. E o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan pediu à assembleia uma autorização formal para ordenar una intervenção de tropas turcas em território sírio, prevendo outras operações futuras.
O Parlamento concedeu a autorização com duração de um ano, nesta quinta-feira (4/10) após uma sessão extraordinária a portas fechadas. Mas, depois de adotado o texto, Atalay deu garantias àqueles que temiam uma escalada militar entre os vizinhos.
Atalay insistiu que a luz verde aprovada pelo Parlamento "não é uma moção para a guerra". "Trata-se, antes de tudo, de dissuadir. A Turquia não vai à guerra", assegurou uma fonte ligada ao governo, "mas estes ataques não podem continuar".
O governo da Síria admitiu às autoridades da Turquia que vários obuses disparados por suas Forças Armadas caíram em território turco, provocando a morte de cinco pessoas, e pediu desculpas pelo ocorrido, segundo Atalay.
"A parte síria admitiu o que havia feito e pediu desculpas", disse o vice-primeiro-ministro à imprensa. Atalay acrescentou que o governo sírio garantiu às autoridades turcas que "um incidente deste tipo não se repetirá".
Lição
Vários membros do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), no governo, também rejeitaram qualquer retórica belicista.
"A Turquia não quer a guerra, mas é capaz de se defender de qualquer ataque que ameace sua soberania", disse durante os debates no Parlamento um dos vice-presidentes do Partido, ;mer Celik.
[SAIBAMAIS] "Todos os alvos militares foram atacados à noite de maneira dissuasiva", reiterou Yalçin Akdogan, assessor do primeiro-ministro.
"Receberam a devida lição", acrescentou. "Tudo dependerá agora da atitude da Síria".
Desde o início das hostilidades na Síria, em março de 2011, a opinião pública turca, já envolvida há cerca de trinta anos no conflito com a rebelião separatista curda, continua se opondo em grande parte a qualquer intervenção na Síria.
Uma pesquisa online divulgada nesta quinta-feira (4/10) pelo jornal Hürriyet confirmou que 64% dos turcos são contrários ao texto votado no Parlamento.
A principal força de oposição, o Partido Republicano do Povo (CHP), e o partido pró-curdo (BDP) votaram nesta quinta-feira contra a moção.
Depois de ter aumentado a sua presença na fronteira síria nos últimos meses, o Exército turco tem se mostrado prudente até o momento.
"Trata-se sobretudo de mostrar que o Exército é capaz de intervir a qualquer momento, mas isso não quer dizer que irá à guerra", concluiu o general da reserva Armagan Kuloglu à rede de notícias NTV.