Caracas - Henrique Capriles Radonski lembra que nunca perdeu uma eleição: foi deputado, prefeito, governador e agora este advogado pretende derrubar o popular Hugo Chávez no domingo (7/10), após uma campanha em que percorreu o país, assim como o presidente fez em sua primeira eleição, em 1998.
Capriles, 40 anos, começou muito atrás nas pesquisas, mas conseguiu diminuir a distância depois de uma campanha frenética, que o levou a 280 localidades, em um ritmo de dois ou três cidades por dia, separadas por até 500 quilômetros, vestindo camisas de cores diferentes a cada ato.
"Eu não sou um candidato de cartazes, o magro é visto nas ruas", disse recentemente o candidato, de corpo atlético e voz rasgada, em clara referência a Chávez, de 58 anos, que foi forçado a diminuir o ritmo de aparições nas ruas devido à recuperação de um câncer diagnosticado no ano passado.
Fã de esportes, ele fez caravanas em automóveis e, por vezes, caminhadas, distribuindo apertos de mão e beijos. As imagens clássicas da campanha mostram o candidato cercado por multidões em uma caminhonete, com o rosto suado e a voz ofegante, tentando abrir caminho entre os partidários jogando bonés nas cores azul, amarelo e vermelho da bandeira venezuelana, o que contrasta com o vermelho dos partidários de Chávez.
Com discursos curtos e uma mensagem simples, baseada nos problemas cotidianos dos venezuelanos, Capriles se distanciou das questões ideológicas, até então uma obsessão da oposição, e foi capaz de despertar um entusiasmo crescente, que antes era visto apenas nas fileiras de Chávez. Depois de vencer as primárias da oposição em fevereiro, com mais de 60% dos votos, ele tem evitado responder os ataques de Chávez e apresenta uma mensagem de inclusão frente ao discurso beligerante do presidente. Capriles, que se apresenta como o "candidato do progresso", contra a "continuidade" representada por Chávez, assegura que está "confortável" quando colocado na centro-esquerda e acredita que a prioridade deve ser as políticas sociais.
[SAIBAMAIS]Diante de um modelo em que, segundo ele, "o Estado controla tudo", Capriles propõe "combinar o Estado com a iniciativa privada, para que aqueles que estão na pobreza tenham a oportunidade de ter um emprego e não depender de recursos do Estado". Ele também propõe acabar com algumas prerrogativas promovidas por Chávez, como a reeleição indefinida e leis, como as que permitem desapropriar terras. Os defensores do presidente, por sua vez, acusam Capriles de ser superficial e basear sua campanha em uma estratégia de publicidade nos moldes americanos, vazia de sentido.
Filho de uma família rica e neto materno de judeus poloneses sobreviventes do Holocausto, mas que se define como cristão católico, Capriles é um advogado especializado em Direito Empresarial. Começou sua carreira política cedo, quando aos 26 anos foi eleito deputado e presidente da extinta Câmara. Chávez associa a imagem de seu opositor a de um sistema desgastado de partidos superado por ele na eleição de 1998, mas Capriles afirma ter dois adversários: "Aqueles que estão no governo atualmente e aqueles que sabem que comigo não vão voltar para trás, para os vícios".
Em 2000, Capriles venceu a disputa pela prefeitura do município de Baruta, em Caracas, com o apoio do recém-criado partido Primeira Justiça, social-cristão, a qual ainda pertence. Em 2004, foi reeleito prefeito, depois de passar quatro meses na prisão sob acusação de não responder a um ataque à embaixada de Cuba durante o golpe de Estado que afastou Chávez do poder por pouco tempo, em abril de 2002. Ele foi absolvido da acusação
Em 2008, tornou-se governador de Miranda (norte), contra uma das figuras mais poderosas do governo, o atual presidente da Assembleia Nacional e ex-militar que participou com Chávez na tentativa de golpe de 1992, Diosdado Cabello. Como governador, é reconhecido principalmente pelo trabalho que fez na educação, com a recuperação de colégios e planos para aumentar a matrícula escolar, assim como outros programas para a construção de casas populares e a promoção da saúde gratuita.
Capriles é solteiro, s os meios de comunicação não param de especular sobre seus possíveis relacionamentos e suas partidárias o recebem com propostas de casamento estampadas em cartazes. Mas esta semana confessou que tinha "uma mulher em seu coração". Capriles também se distancia de Chávez na política externa, alegando que não busca "ter um clube internacional de amigos", mas "relações de igualdade" com todos os países e afirma que não vai dar "nenhuma gota" do petróleo venezuelano.