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Paquistão se agita antes de protestos muçulmanos contra EUA e França

Paris - Milhares de paquistaneses entraram em confronto com a polícia nesta quinta-feira (20/9), na véspera de um dia de protestos no mundo muçulmano contra um filme islamófobo produzida nos Estados Unidos e contra as caricaturas de Maomé publicadas na França.

Pelo menos 50 pessoas ficaram feridas em Islamabad quando a polícia dispersou com bombas de gás lacrimogêneo e tiros para o alto cerca de 5.000 manifestantes, muitos deles armados com paus, que tentaram entrar em uma área onde estão localizadas várias embaixadas, incluindo as de Estados Unidos, França e Reino Unido. Outro protesto, realizado sem incidentes, reuniu cerca de 4.000 pessoas em Lahore (leste).

Os participantes desses atos exigiam castigos para os americanos que "insultam" o Islã, referindo-se à equipe de produção do filme "A inocência dos muçulmanos". Em Los Angeles, um juiz americano rejeitou nesta quinta-feira (19/9) o pedido de uma atriz que trabalhou no filme de proibir o YouTube de continuar exibindo trechos nos Estados Unidos. Na quarta-feira, o YouTube indicou que havia estendido as restrições de acesso ao vídeo "a países onde é considerado ilegal pelas autoridades, que são, até o momento, Índia, Indonésia, Malásia e Arábia Saudita".

[SAIBAMAIS]A difusão na internet de partes desse filme ofensivo ao Islã desencadeou na semana passada uma onda de protestos em cerca de vinte países, do norte da África à Indonésia, deixando mais de 30 mortos, doze deles em um atentado suicida na terça-feira no Afeganistão. As tensões aumentaram na quarta-feira com a divulgação na revista satírica francesa Charlie Hebdo de caricaturas de Maomé, duas delas mostrando o profeta nu.

Na Nigéria, milhares de muçulmanos queimaram nesta quinta-feira em Zaria (norte) bandeiras americanas e israelenses e exigiram que os produtores do polêmico filme sejam julgados. Em Teerã, cerca de 200 pessoas protestaram diante da embaixada francesa, enquanto centenas participaram de uma passeata em Cabul aos gritos de "Morra França! Morram Estados Unidos". O governo de Teerã condenou a publicação das caricaturas "insultantes" pela revista satírica francesa, e pediu que o "governo francês adote as medidas necessárias para condenar esses documentos ofensivos".

O secretário-geral da Organização da Conferência Islâmica (OCI), Ekmeleddin Ihsanoglu, advertiu para o risco de que as caricaturas "exacerbem os distúrbios e a violência provocadas pelo filme anti-islâmico". Ihsanoglu pediu que as lideranças políticas e religiosas "formem uma frente comum contra os fanáticos e os extremistas envolvidos na desestabilização da paz e da segurança mundiais, que atiçam a incitação ao ódio religioso". No Egito, a Irmandade Muçulmana, movimento do presidente Mohamed Mursi, rejeitaram "categoricamente" a divulgação das caricaturas e pediram "medidas" ao governo francês.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, criticou com dureza na quarta-feira o filme islamófobo. A liberdade de expressão é um direito "inalienável", mas quando é usada "para provocar ou humilhar outras pessoas em seus valores e crenças, não pode ser protegida da mesma forma", declarou ele a jornalistas em Nova York. Vários países reforçaram as medidas de segurança antes das orações muçulmanas de sexta-feira, que podem representar uma oportunidade para aumentar a mobilização contra os países ocidentais.

As autoridades tunisianas proibiram qualquer manifestação contra as caricaturas de Maomé, alegando terem sido informadas a respeito de preparativos de atos "de violência".


Tensão na França

A França ordenou o fechamento na sexta-feira (14/9) de suas missões diplomáticas, de centros culturais e de escolas em cerca de vinte países muçulmanos. A polícia francesa proibiu um protesto convocado para sábado diante da Grande Mesquita de Paris com o lema "Não toque em meu Profeta".

A publicação das caricaturas colocou esse país -que conta com a maior comunidade muçulmana da Europa (quatro a seis milhões de fiéis)- no centro do vendaval religioso. No sábado passado (15/9), entre 200 e 250 pessoas, das quais 100 foram detidas, participaram de uma manifestação perto da embaixada dos Estados Unidos em Paris para protestar contra o filme americano.

O reitor da mesquita de Paris, Dalil Boubakeur, anunciou "a leitura de uma mensagem" de tranquilidade durante as orações de sexta-feira. Para o final de semana também estão previstas manifestações anti-americanas em várias cidades da Alemanha.