SANAA - Quatro pessoas morreram nesta quinta-feira (13/9) durante confrontos entre a polícia e manifestantes que protestavam próximo à embaixada dos Estados Unidos em Sanaa contra um filme americano que denigre o Islã, e que suscitou manifestações em mais países muçulmanos.
Foram registrados protestos ainda em Egito, Irã, Iraque, Gaza e Líbano, pouco mais de um dia depois da morte de quatro americanos, entre eles o embaixador na Líbia, durante um ataque ao consulado dos Estados Unidos em Benghazi (nordeste) praticado por um grupo que protestava contra o filme.
O longa-metragem, intitulado A Inocência dos Muçulmanos, faz referência à vida de Maomé, abordando temas como a homossexualidade e a pedofilia, além de apresentar os muçulmanos como imorais e gratuitamente violentos. No Iêmen, jovens revoltados entraram de manhã no prédio da embaixada americana em Sanaa, mas depois foram expulsos pela polícia, constatou um correspondente. Os confrontos continuaram até a noite, deixando no total 4 mortos e 34 feridos, indicou uma autoridade dos serviços de segurança.
A Casa Branca anunciou que está fazendo o máximo para proteger seus diplomatas no Iêmen, e assegurou que os funcionários da embaixada estão sãos e salvos. A União Europeia pediu a Sanaa que proteja os diplomatas europeus.
O presidente iemenita, Abd Rabo Mansur Hadi, pediu "desculpas ao presidente americano, Barack Obama, e ao povo americano", e prometeu punir os culpados.
Condenações ao filme e à violência
No Cairo, houve confrontos esporádicos durante todo o dia nos arredores da embaixada dos Estados Unidos entre manifestantes e a polícia, que usou bombas de gás lacrimogêneo. Segundo o Ministério da Saúde, 200 pessoas ficaram feridas nos incidentes, que começaram à noite.
O presidente egípcio, o islamita Mohamed Mursi, condenou "qualquer agressão ou insulto ao profeta", mas pediu que as pessoas não ataquem as embaixadas.
"É nosso dever proteger nossos hóspedes e aqueles que vêm do exterior", considerou.
A influente Irmandade Muçulmana, da qual Mursi faz parte, convocou um protesto para sexta-feira.
No Kuwait, cerca de 500 manifestantes se reuniram perto da embaixada de Washington, agitando bandeiras pretas da rede Al-Qaeda.
Em Teerã, outras 500 pessoas participaram de uma manifestação contra o polêmico filme nesta quinta próximo à embaixada da Suíça, que representa os interesses dos Estados Unidos no Irã. Os manifestantes exibiam Alcorões e gritavam "Morte aos Estados Unidos" e "Morte a Israel".
Mais de 200 policiais e bombeiros impediram que os manifestantes se aproximassem da embaixada. Os funcionários tinham sido retirados por precaução. O Guia Supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, aproveitou para pedir aos Estados Unidos que "castiguem" os autores do longa-metragem.
A Arábia Saudita "condenou as reações violentas contra os interesses americanos em vários países", e também criticou "a produção por parte de um grupo de irresponsáveis nos Estados Unidos de um filme que insulta o profeta Maomé".
Em uma tentativa de apaziguar a situação, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, condenou o vídeo chamando-o de "repugnante e condenável", já que "parece ter um planejamento profundamente cínico, para denegrir uma grande religião e provocar revolta".
"Mas como disse ontem (quarta-feira), não há justificativa, nenhuma em absoluto, para reagir a esse vídeo com violência", acrescentou.
Segurança reforçada na Ásia
No Iraque, milhares de simpatizantes do líder xiita Moqtada al-Sadr protestaram nesta quinta-feira na cidade de Najaf (sul), em Bagdá e em Kirkuk (norte). Os manifestantes, acompanhados pelas forças de segurança, gritaram palavras de ordem hostis aos Estados Unidos e a Israel.
Cerca de 200 pessoas participaram de manifestações nas cidades libanesas de Trípoli (norte) e Sidón (sul), e algumas queimaram bandeiras dos Estados Unidos. Na Faixa de Gaza, centenas de palestinos protestaram nesta quinta-feira pelo segundo dia consecutivo contra o filme.
O presidente afegão, Hamid Karzai, adiou nesta quinta uma visita à Noruega, porque teme distúrbios. Seu governo decidiu também bloquear o acesso ao site de vídeos Youtube, para impedir que as pessoas assistissem ao filme.
Na mesma linha, o Paquistão decidiu bloquear o acesso a esse vídeo em particular, mas não ao site. A Indonésia, país com a maior população muçulmana do mundo, pediu ao Youtube o bloqueio da divulgação do filme. A Índia colocou em alerta suas forças mobilizadas nas imediações de interesses americanos.