Chevaline - As autoridades mantinham as investigações para tentar desvendar o mistério em torno da chacina de quatro membros de uma mesma família de turistas britânicos no leste da França, da qual escapou uma menina de 4 anos, que ficou por oito horas sem se mexer debaixo dos corpos de duas mulheres, supostamente sua mãe e sua avó. Além dessas três vítimas, uma quarta pessoa morreu - um ciclista - e uma segunda menina, mais velha, sobreviveu ao ataque, mas foi internada em estado grave.
Em coletiva de imprensa, o promotor de Annecy, Eric Maillaud, informou que três das quatro pessoas assassinadas - os membros da família - foram mortas com tiros na cabeça. Ele também confirmou que o suposto pai da família, o motorista do carro em que os corpos foram encontrados, era de origem iraquiana. Além disso, afirmou que a menina de 4 anos começou a falar, enquanto a outra foi colocada em coma induzido devido à gravidade de seus ferimentos e deve ser operada novamente.
O promotor destacou a "selvageria extrema" da matança, mas não quis antecipar hipóteses quanto à motivação do crime, considerando que é preciso ter prudência em relação aos vínculos entre as vítimas, que devem ainda ser formalmente identificadas. Fontes policiais afirmaram que o dono do carro se chama Saad al-Hilli, de 50 anos, nascido em Bagdá e morador da localidade de Claygate, na região de Surrey, periferia de Londres.
A origem iraquiana do homem, que vive há muitos anos na Grã-Bretanha, foi confirmada e dois passaportes, um sueco e outro iraquiano - que podem pertencer às duas mulheres mortas -, foram encontrados no local.Por fim, a Polícia indicou que a pessoa que encontrou os corpos é um ex-membro da Royal Air force que mora nos arredores e costuma dar passeios de bicicleta. A Polícia francesa realiza revistas o chalé da família, localizado em um camping de Alta Saboya (leste). O dono do local, situado às margens do lago Annecy, proibiu o acesso dos jornalistas.
Outros policiais foram enviados a Surrey, sudeste de Londres, onde trabalham junto com as autoridades locais na investigação. "Devido à situação, é certo que a pista criminal ocupa o primeiro lugar", afirmou ainda Maillaud. "Mas todas as pistas são possíveis", acrescentou. "Os três corpos encontrados no carro podem ser os do pai, da mãe e da avó. É a composição de uma família tradicional e assim foi descrito pelos ocupantes do camping", declarou o tenente-coronel Benoit Vinnemann, da polícia de Chambery, que conduz a investigação. No local do crime, foram encontrados vários cartuchos de uma pistola automática.
Polícia é questionada pela demora em achar menina
A menina que escapou da matança foi encontrada à meia-noite dentro do carro BMW em que viajava com as outras três pessoas, muito provavelmente seu pai, sua mãe e sua avó, mortos na tarde de quarta-feira, quando o veículo estava estacionado na localidade de Chevaline (Alta Saboya).
"Ela permaneceu imóvel durante cerca de oito horas. Não conseguimos encontrá-la logo que tivemos acesso à cena do crime", explicou o promotor, referindo-se ao técnicos do Instituto de Investigação Criminal da Gendarmeria Nacional (IRCGN). Segundo ele, a menina de 4 anos se escondeu sob as pernas das mulheres mortas durante todo o tempo em que ficou no carro, segundo um dos investigadores. "Ela estava totalmente invisível", insistiu Maillaudo.
Esta declaração tenta responder de alguma maneira à polêmica causada pelas oito horas que a polícia levou entre a localização dos corpos e a descoberta da menina sobrevivente e escondida entre os cadáveres.
"Ela ficou evidentemente contente por estar nos braços dos investigadores. Foi hospitalizada numa clínica psiquiátrica infantil. O importante é protegê-la e apoiá-la", contou ainda o promotor. A menina começou a falar e suas declarações serão divulgadas em breve, embora, segundo ele, não se possa esperar muita informação de uma criança de apenas 4 anos. A outra menina, de 6 ou 7 anos, foi levada para o hospital de Grenoble com graves ferimentos. Na manhã desta quinta-feira, foi colocada em coma induzido e será submetida novamente a uma operação. "Foram tomadas todas as precauções para que fiquem acompanhadas, sejam tratadas e protegidas nas melhores condições possíveis", explicou o promotor.
Além da França, a Grã-Bretanha amanheceu abalada com a tragédia. "Tiroteio terrível e trágico na França", afirmou, no Twitter, o ministro britânico das Relações Exteriores, William Hague. "A equipe da embaixada britânica está no local", acrescentou. A imprensa britânica deu grande destaque ao caso. Os jornais The Independent e The Mirror falaram de um assalto a mão armada, enquanto que The Telegraph cogita uma chacina premeditada.