Damasco - O chefe do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Peter Maurer, pediu nesta terça-feira em Damasco ao presidente sírio, Bashar al-Assad, um acesso maior às centenas de milhares de pessoas afetadas pela violência, particularmente em Aleppo, onde a falta de alimentos afeta cada vez mais a população.
Na reunião, Bashar al-Assad disse que apoia o trabalho do CICV, contanto que seja "imparcial".
No terreno, a violência não dá trégua, com combates em diversas frentes, em Aleppo (norte), Hama, Homs (centro), Idleb (noroeste), Deraa (sul) e Damasco, e bombardeios do regime contra os redutos insurgentes, segundo militantes.
Pelo menos 58 pessoas --37 civis, 12 soldados e nove rebeldes--, morreram vítimas da violência, segundo um registro provisório do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
O OSDH indicou também a descoberta de dez corpos em Daraya, cidade localizada próximo a Damasco, onde no final de agosto foi registrado um massacre, elevando para mais de 500 o número de mortos, entre os quais dezenas de mulheres e crianças.
Além dos mortos, contados em dezenas por dia, mais de 100.000 sírios fugiram do país em agosto para se refugiarem nos países vizinhos, "o número mensal mais elevado desde o início do conflito" em março de 2011, anunciou o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), em Genebra.
No total, cerca de 235.000 sírios abandonaram o país e 1,2 milhão são considerados deslocados internos, tendo se abrigado em prédios públicos, desde o começo da crise desencadeada por um protesto pacífico que se transformou em rebelião armada frente à repressão.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, considerou que a situação humanitária "se degrada", indicou seu porta-voz, Martin Nesirky.
Na ausência de um consenso que abra um caminho para a solução do conflito, a comunidade internacional está focada na ajuda humanitária ao país, devastado por quase 18 meses de batalhas.
Durante um encontro em Damasco, Assad disse ao novo presidente do CICV, Peter Maurer, que "saúda as operações humanitárias desenvolvidas pelo Comitê no terreno, sempre e quando se mantêm independentes e imparciais", segundo a imprensa oficial.
Falta de alimentos
Maurer ressaltou "a vontade de cooperar do governo sírio" e "a confiança estabelecida" entre Damasco e a organização, segundo a agência oficial Sana. A reunião discutiu o "estabelecimento de mecanismos necessários para reforçar esta cooperação".
O presidente do CICV chegou na segunda-feira a Damasco em sua primeira visita desde a sua nomeação, no dia 1; de julho. Segundo o CICV, ele se reunirá com outras autoridades do regime sírio.
A visita, que vai durar até quinta-feira, "será centrada nas crescentes necessidades humanitárias e permitirá lembrar os combatentes de suas obrigações, em virtude da convenção sobre a proteção dos civis", segundo a porta-voz do CICV em Damasco. Maurer pode realizar uma "visita ao território" sírio, disse, sem dar maiores detalhes.
Maurer considerou "de grande importância" poder reforçar "consideravelmente" a ação humanitária do CICV e do Crescente Vermelho sírio.
Desde o início do ano, ambas as organizações distribuíram ajuda a mais de 800 mil pessoas, em sua maioria deslocados, e asseguraram o abastecimento com água potável, em quantidade suficiente, de mais de um milhão de pessoas. Mas desde que a situação piorou, o número de pessoas que precisam de ajuda aumentou.
[SAIBAMAIS]Os bairros rebeldes da cidade de Aleppo, submetida aos bombardeios da artilharia, sofrem com a escassez de alimentos, segundo um militante local.
"O regime impede que os produtos alimentares cheguem aos bairros libertados (sob controle rebelde). Os moradores recebem os produtos por contrabando", afirmou esse militante contatado via Skype pela AFP.
"É um verdadeiro assédio, um castigo coletivo. Se o regime pudesse nos privar do ar, já teria feito isso", disse.
Na véspera, o general encarregado das operações do Exército sírio no oeste de Aleppo afirmou à AFP que as tropas regulares retomarão "em 10 dias" a cidade, palco de combates há um mês e meio.
Após da tomada do bairro estratégico de Salaheddine e da parte alta do de Seif al-Dawla, os oficiais no local afirmaram que isso facilitará a conquista de Aleppo.
Mas, segundo o presidente do OSDH, Rami Abdel Rahman, "não há um controle claro, nem de uns, nem de outros". Em cerca de 18 meses de revolta, mais de 26.000 pessoas morreram, segundo o OSDH.