Jornal Correio Braziliense

Mundo

Ataque em Hama e atentado em Damasco matam pelo menos 22 civis na Síria

Damasco - O Exército sírio lançou neste domingo um ataque na província rebelde de Hama, matando pelo menos 22 civis, enquanto um atentado atingiu um bairro de Damasco que abriga prédios dos serviços de segurança.

Na província de Hama (centro), um dos redutos da rebelião, o Exército lançou um ataque a Al-Fan, uma zona rural, indicou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), registrando 22 civis, todos homens. "É provável que o número de vítimas desta operação militar no bairro de Al-Fan aumente, já que várias pessoas estão desaparecidas e alguns feridos estão em estado crítico", indicou a ONG, que se baseia em uma rede de militantes e de testemunhas.

A agência de notícias oficial Sana indicou que todos eram membros de um "grupo terrorista armado que estava prestes a atacar cidadãos e as forças de segurança". Todos foram mortos pelo Exército, que também apreendeu suas armas, acrescentou a Sana. O regime sírio não reconhece a magnitude da onda de contestação que sacode o país há quase 18 meses e atribui os conflitos a "grupos terroristas armados".

Nas imagens postadas no YouTube, filmadas na região de Al-Fan, segundo os militantes, é possível ver corpos alinhados no chão envoltos em panos brancos e mulheres chorando sobre os cadáveres.

Multiplicação dos atentados em Damasco

Na capital, um atentado a bomba atingiu o bairro de Abou Remmaneh, que abriga prédios da Segurança e o gabinete do vice-presidente Farouk al-Chareh, segundo a televisão estatal. O ataque deixou quatro feridos neste bairro residencial de classe alta situado nas imediações da Praça dos Omíadas, indicou a rede de televisão, mencionando um atentado "terrorista".

Segundo o OSDH, "duas bombas explodiram perto de um prédio anexo ao Estado-Maior do Exército e das Forças Armadas", deixando feridos. Um grupo islamita desconhecido, "a Brigada dos Netos do Profeta", que se apresenta como uma organização ligada ao Exército Sírio Livre (ESL, rebelião), reivindicou a autoria do atentado em sua página no Facebook, afirmando que representava "uma resposta aos massacres em Daraya e em outras cidades".
Os atentados se multiplicaram nos últimos dias em Damasco, onde o Exército tenta de acabar com os bolsões de resistência dos rebeldes. No total, a violência deixou neste domingo pelo menos 103 mortos, incluindo 66 civis, segundo um registro provisório do OSDH. A guerra deixou mais de 26.000 mortos desde março de 2011, de acordo com essa ONG, e causou o êxodo de centenas de milhares de pessoas.

Em Mazzé, outro bairro de classe alta da capital, as tropas regulares atacaram a periferia com o apoio de tanques e "destruíram três lojas e cinco casas", segundo o OSDH.

Os redutos rebeldes em várias cidades também estavam sob o fogo de tanques e dos helicópteros do Exército, com os insurgentes equipados com armas leves sem condições de responder, apesar da intensificação de seus ataques.

[SAIBAMAIS]Os rebeldes haviam marcado pontos ao tomar o prédio principal de uma base aérea em Boukamal (leste). Após um ataque na quinta-feira, eles também afirmaram manter em seu poder parte do aeroporto de Abou el-Zouhour, um dos principais da província de Idleb (noroeste), ao lado do de Taftanaz. Mas os helicópteros continuam decolando de Taftanaz para sobrevoar a cidade vazia, segundo um jornalista da AFP.

Escassez de pão

Em Aleppo, metrópole do norte mergulhada em uma guerra após mais de um mês de combates, vários bairros foram bombardeados. De acordo com um militante, que se identificou como Oussama, "nem as escolas são poupadas dos ataques". "Sempre há filas de espera diante das padarias" e, "talvez, haja uma penúria total de farinha (...) O mais duro. Temos que procurar medicamentos, pão e leite".

Mais ao sul, o Exército destruiu a última padaria que ainda vendia pão na cidade rebelde de Qousseir (centro), segundo militantes. No plano diplomático, as monarquias árabes do Golfo pediram que a comunidade internacional tome "medidas eficazes" para proteger os civis e defendeu uma "transferência pacífica de poder".

O novo mediador internacional Lakhdar Brahimi havia afirmado, por sua vez, no sábado que a mudança na Síria é "inevitável", evitando pedir a saída do presidente Bashar al-Assad. O Ministério sírio das Relações Exteriores criticou o presidente egípcio, Mohamed Mursi, depois de seu discurso virulento contra o "regime opressor sírio", considerando que não está mais à altura de um chefe de Estado.

Minado por divisões, o Conselho Nacional Sírio (CNS), principal coalizão opositora, decidiu se abrir a novos grupos e se reformar, elegendo seus dirigentes no final de setembro.