Roma - O cardeal italiano Carlo Maria Martini morreu nesta sexta-feira (31/8), em Milão, aos 85 anos, depois de ter encarnado entre os progressistas da Igreja católica a esperança de uma abertura maior ao mundo moderno, embora sempre tenha formulado suas críticas e propostas de forma sutil. O cardeal jesuíta sofria há 10 anos com o Mal de Parkinson.
Eminente intelectual, especialista da Bíblia, autor de dezenas de livros e contribuições teológicas diversas, era muito respeitado para além da esfera progressista, tanto por João Paulo II quanto por Bento XVI, dois meses mais velho que ele, que o visitou em junho em Milão. Esteve entre os "papabile" durante o conclave de abril de 2005 que elegeu finalmente Joseph Ratzinger. Mas suas posições a favor de uma instituição eclesiástica mais aberta e em diálogo com o mundo, assim como seu estado de saúde, enfraqueceram suas chances desde o início dos votos.
Crítico aclamado
Nascido no dia 15 de fevereiro de 1927 em Turim, o cardeal foi ordenado sacerdote no dia 13 de julho de 1952. Foi nomeado pelo papa Paulo VI reitor do Instituto Bíblico, onde permaneceu até 1968, e depois reitor da prestigiada Universidade Pontifícia Gregoriana em Roma. No fim de 1979, João Paulo II o nomeou arcebispo de Milão, a maior diocese da Europa, que dirigiu por 22 anos.
Entre outras tomadas de posição, criticou duramente em 2008 a encíclica "Humanae Vitae" do papa Paulo VI, que rejeitava a contracepção, considerando que a Igreja se "afastou muito das pessoas". Sua opinião era muito ouvida dentro da Igreja pela acuidade de suas análises e por seu humanismo, e denunciou "a tentação" de alguns católicos de "se refugiar" em novos movimentos da Igreja, fornecendo a eles um "valor absoluto" e transformando-os em verdadeiras "ideologias".
[SAIBAMAIS]Também denunciou as "novas pestes" da sociedade, como a droga, e também a corrupção e a solidão. Considerava que uma "evolução" no âmbito do celibato dos sacerdotes era possível, sem que a Igreja de Roma renunciasse inteiramente ao tema, o que teria "consequências mais negativas que positivas".
Amigo pessoal de João Paulo II, discordou dele em algumas questões, sobretudo morais. Trocou uma carta com o escritor Umberto Eco sobre a fé.
Em 1999 "teve um sonho": convocar um novo Concílio, um Vaticano III, porque achava que o Vaticano II (1962/65) estava, de certa forma, obsoleto. Em 2007 afirmou que não realizaria a missa em latim, quando ela foi autorizada novamente pela Igreja sob o papado de Bento XVI. Antes de se aposentar, em julho de 2002, à idade canônica de 75 anos, realizou seu sonho: ir a Jerusalém. Neste ano também anunciou que sofria de Parkinson.
Voltou à Itália em 2008, onde se retirou em uma casa de estudos jesuítas em Gallarate, no noroeste de Milão.