Próximo a Aleppo - A aviação e os tanques do regime de Bashar al-Assad atacaram nesta sexta-feira (24/8) vários redutos rebeldes em toda a Síria, onde o conflito deixou mais de quatro mil mortos nas últimas três semanas, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Nestas circunstâncias, o novo mediador das Nações Unidas e da Liga Árabe para a Síria, Lakhdar Brahimi, disse nesta sexta-feira que se sente "honrado, orgulhoso, comovido e assustado" por sua missão, durante um encontro com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
Obuses e foguetes atingiram as províncias de Deraa (sul), Idleb (noroeste), Aleppo (norte), Homs e Hama (centro) e os subúrbios de Damasco, assim como Deir Ezzor (leste), indicou o OSDH.
Pelo menos 21 pessoas morreram no desabamento de dois prédios atacados pelo Exército, incluindo 12 mulheres e uma criança, em Mayadine, na província de Deir Ezzor (leste), segundo o OSDH. A televisão oficial síria indicou a morte de "dezenas de terroristas" nesta cidade de 55.000 moradores, situada a 420 km de Damasco.
Enquanto isso, mais de 50 cadáveres de pessoas mortas a tiros foram encontrados nas últimas 24 horas em Damasco, em Aleppo e em diferentes regiões assoladas pela violência.
Os atos de violência se concentram nas imediações de Damasco, quartel-general do regime, e em Aleppo, pulmão econômico do país, devastada por mais de um mês de uma batalha crucial.
"A maior parte das pessoas deixou esta região. Elas são pobres, e nós tentamos ajudar um pouco quem ficou", disse nesta sexta-feira um combatente rebelde na cidade de Aleppo.
Apesar da escalada, os sírios saíram às ruas aos milhares, como a cada sexta-feira desde março de 2011, para manifestar a sua oposição ao regime e sua decepção frente à incapacidade da comunidade internacional de pôr fim ao banho de sangue. "O mundo nos enoja" gritavam os manifestantes em Deraa.
O registro de vítimas desta sexta chegou a 130 mortos em todo o país -- 86 civis, 29 soldados e 15 rebeldes --, segundo um registro ainda provisório do OSDH, que se baseia em uma rede de militantes e testemunhas.
Mais de 200 mil refugiados
A violência atingiu um pico em agosto com pelo menos quatro mil mortos: "Antes mesmo de seu fim, agosto é o mês mais violento, com a morte de mais de três mil civis armados ou não, de 918 soldados e de 38 desertores", declarou Rami Abdel Rahman, presidente do OSDH.
"A esse registro, somam-se mais de 200 corpos que foram enterrados sem que fossem identificados", acrescentou. Em Aleppo, "o conflito ganha ares de guerra civil porque há clãs pró-regime que enfrentam os rebeldes", prosseguiu.
Não é possível confirmar esses registros de forma independente em razão das restrições impostas à imprensa estrangeira.
O jornalista americano independente Austin Tice, de 31 anos, que entrou clandestinamente na Síria, está desaparecido há mais de uma semana, segundo o Washington Post e o grupo de imprensa McClatchy, seus mais recentes empregadores, que estão preocupados com sua segurança.
Desde o início da revolta, a violência na Síria deixou 25. mil mortos, em sua grande maioria civis, segundo um registro do OSDH, e obrigou mais de 200 mil sírios a fugir para países vizinhos, segundo o Alto Comissariado para os Refugiados da ONU (Acnur).
[SAIBAMAIS]Na Jordânia, as autoridades anunciaram que um recorde de 2.324 refugiados sírios haviam cruzado a fronteira na noite de quinta para sexta-feira.
Mais de 2 milhões de pessoas na Síria precisam de ajuda, segundo o Acnur, que explicou que a violência no país e os confrontos ligados à crise síria no vizinho Líbano complicam sua missão.
O Conselho Nacional Sírio (CNS), principal coalizão opositora, lembrou nesta sexta-feira que mesmo que as atenções da imprensa estejam voltadas para Aleppo, a situação em Homs permanece dramática.
A cidade está "cercada há 80 dias" e milhares de civis não têm comida e medicamentos. "As casas, os abrigos e os hospitais são bombardeados", indicou o CNS em um comunicado.
Diante do bloqueio no Conselho de Segurança da ONU, Paris e Berlim pressionam juntas para que esta instância tome decisões pelo menos no âmbito "humanitário".
A França mencionou a possibilidade de instaurar, para fins humanitários, uma zona de exclusão aérea ao longo da fronteira na Síria. Uma zona como essa pode ser utilizada com fins militares, segundo especialistas que insistem na necessidade de um mandato da ONU.
A oposição síria exige o estabelecimento dessa zona, principalmente no norte, na fronteira com a Turquia, mencionando o modelo daquele que ajudou, a contragosto de Moscou e Pequim, a derrubar o líder Muamar Kadafi.