Oslo- Apesar de seu aspecto de homem amável e sem problemas, o norueguês Anders Behring Breivik, condenado nesta sexta-feira (24/08), em Oslo a 21 anos de prisão prorrogáveis, entrará para a história como um dos assassinos mais sanguinários, movido pelo ódio ao Islã e ao multiculturalismo.
Forte, louro e sedutor, este extremista de direita ouviu com um sorriso o veredicto no qual foi declarado responsável por seus atos, como desejava para poder legitimar sua ideologia racista e xenofóbica, embora vá passar um longo período na prisão, que pode ser prolongado de forma indefinida.
Breivik reconheceu ter matado 77 pessoas no dia 22 de julho de 2011 ao disparar contra um acampamento de jovens trabalhistas depois de detonar uma bomba perto da sede do governo da Noruega.
O autor descreveu o massacre como "um ataque preventivo contra os traidores da pátria", a Noruega, um país rico, liberal e agradável, onde nasceu no dia 13 de fevereiro de 1979 e cresceu sem que em nenhum momento as pessoas próximas detectassem o drama que iria ocorrer.
[SAIBAMAIS]Segundo ele mesmo reconheceu, Breivik teve uma infância normal, com um pai diplomata e uma mãe enfermeira que se separaram logo após seu nascimento. Cresceu com sua mãe e sua meio-irmã no seio de uma família de classe média que, assegurou, nunca teve problemas de dinheiro.
Sua única queixa foi a de ter tido "muita liberdade".
Por ocasião da disputa de guarda da criança, os serviços sociais alertaram sobre uma possível carência. "Anders é um menino passivo, que foge um pouco do contato, é um pouco ansioso (...), com um sorriso falso e desestimulante", escreveu um psicólogo, quando o menino tinha apenas quatro anos. "O ideal seria colocá-lo em uma família estável", acrescentou.
A recomendação ficou sem resposta e o pai não conseguiu obter perante a justiça a custódia de seu filho.
Passado este episódio, a infância de Anders Behring Breivik parecia seguir um caminho linear e sem problemas específicos. O adolescente, que passou por um período hip hop, retomou o contato com seu pai após alguns problemas com a polícia por fazer pichações.
Deixou a faculdade sem terminar sua educação, supostamente para se dedicar a uma carreira política. Aderiu ao movimento dos jovens do Partido do Progresso (FrP), um grupo de direita populista anti-imigração na qual tomou responsabilidades locais.
Cerca de dez anos depois saiu desse partido, ao considerá-lo muito aberto às "esferas multiculturais" e aos "ideais suicidas do humanismo".
Durante o julgamento, algumas das pessoas que foram amigas do assassino o descreveram como uma pessoa sociável, inteligente e, inclusive tolerante, muito preocupada com seu aspecto, mas totalmente isolada a partir de 2006.
Embora suas críticas ao islã, ao multiculturalismo e ao marxismo multicultural sejam recorrentes, Breivik se define como um "militante nacionalista", conservador, mas não racista, que se sacrificou para proteger os noruegueses contra a desintegração do país.
Aos juízes, afirmou ser "alguém muito simpático em tempos normais".
No dia 22 de julho de 2011, matou friamente na ilha de Utoya 69 pessoas, em sua maioria adolescentes, o que o converteu no autor do tiroteio mais sangrento realizado por apenas um homem.
Pouco antes havia assassinado outras oito pessoas ao detonar uma caminhonete-bomba no bairro dos ministérios de Oslo.
Foram atos "atrozes, mas necessários", segundo ele, e que Breivik parece ter realizado só depois de tê-los planejado durante muito tempo.
Segundo seu manifesto, Breivik entrou em 2002 em uma cruzada ideológica nos "Cavaleiros Templários" - uma organização cuja existência a polícia nunca conseguiu provar - e decidiu entrar em ação já no fim de 2009.
Este homem, de uma cortesia desconcertante, começou então a preparar em detalhe os ataques mais sangrentos cometidos na Noruega desde a Segunda Guerra Mundial, com cuidado para não levantar suspeitas.
Passou meses, inclusive, treinando com videogames violentos para perder qualquer sensibilidade em relação à vida humana quando desencadeasse a matança que tinha em mente.
É o exemplo típico do "lobo solitário" que vive recluso no apartamento de sua mãe, antes de se mudar para uma fazenda alugada para poder adquirir discretamente o adubo necessário para fabricar sua bomba.
"Ele me parecia uma pessoa comum, o homem que passa despercebido", declarou um vizinho de sua mãe à AFP um dia após o massacre.