Enquanto o mundo analisa o relatório das Nações Unidas sobre as cidades na América Latina e no Caribe, o economista Ph.D. Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas e cotado para presidir o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), alerta ; sem tirar o mérito do estudo inédito ; que parte dos números está defasada. Enquanto a ONU aponta que o Brasil é o quarto país mais desigual da região, o especialista afirma que o atual coeficiente de Gini ; que mede a concentração de renda ; para o país é melhor do que o apresentado na pesquisa. Em entrevista ao Correio, Neri comenta o progresso econômico e social da última década e analisa os desafios colocados pela urbanização e pela expansão da classe média.
[SAIBAMAIS]O Brasil já foi o país mais desigual da América Latina. Agora, aparece em quarto lugar, à frente de países como Bolívia e Paraguai. É algo a ser comemorado ou é um dado preocupante?
Acho que a comparação com a América latina é capciosa, em dois sentidos. A América Latina é a região mais desigual do mundo. Estar em quarto aqui é como estar na ;zona de rebaixamento; da quarta divisão. É como eu vejo. Estamos mal na pior categoria. Mas o Brasil tem melhorado bastante. Em dois terços dos países, a desigualdade está aumentando. Agora, essa fotografia era pior antes. É uma estimativa menos desonrosa, mas o Brasil tem melhorado. Na América Latina, em 17 países, a desigualdade vem caindo. Mas ela tem piorado em países mais igualitários, como Costa Rica e Uruguai. Acho que o filme brasileiro é inédito, é interessante. Nunca tínhamos visto isso nas nossas séries estatísticas, a desigualdade em queda contínua. Mas ainda é uma fotografia ruim.