Damasco - As tropas sírias lançaram nesta sexta-feira (20/7) uma contraofensiva nos bairros de Damasco que se encontram em mãos dos rebeldes, que, por sua vez, convocaram os sírios a desferir um golpe decisivo contra o regime de Bashar al-Assad no primeiro dia do Ramadã.
"O exército lançou uma contraofensiva para recuperar o controle dos bairros nos quais terroristas se infiltraram", disse à AFP uma fonte dos serviços de segurança sírios, contactada de Beirute. A televisão estatal informou que as tropas sírias, apoiadas por tanques, "limparam" o bairro de Midan, perto do centro da capital, e apreenderam um enorme arsenal após fortes combates.
Com fundo de música marcial, as imagens mostravam prisioneiros algemados, de joelhos e olhando para a parede, assim como arsenais de fuzis Kalashnikov, metralhadoras pesadas e lança-foguetes. O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), uma ONG com sede em Londres, também informou sobre a queda de Khobar (leste), onde as forças de Assad realizavam varreduras, e sobre operações contrainsurgentes em andamento nos bairros de Kafar Sousse (sudoeste) e Barze (nordeste).
Também informou sobre violentos confrontos na cidade de Aleppo, a segunda maior do país. A Síria viveu nesta quinta-feira o dia mais sangrento desde a explosão da rebelião, há mais de 16 meses, com pelo menos 300 mortos (139 civis, 98 soldados e 65 insurgentes), segundo esta ONG. Os confrontos e a repressão aceleraram o êxodo da população. Segundo o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR), cerca de 30 mil sírios fugiram apenas para o Líbano nas últimas 48 horas.
[SAIBAMAIS]O Exército Sírio Livre (ESL), formado principalmente por militares desertores, se apoderou na quinta-feira de todas as passagens fronteiriças com o Iraque (segundo as autoridades deste país) e de um posto fronteiriço com a Turquia, o de Bab al-Hawa, após violentos combates, de acordo com um fotógrafo da AFP. Cerca de 150 combatentes fortemente armados controlam agora esta passagem, situada em frente ao posto turco de Cilveg;zü, na província de Hatay, onde estão instalados muitos campos de refugiados sírios.
Um funcionário dos serviços sírios assegurou na quinta-feira à AFP que o exército havia demonstrado "moderação em suas operações", mas, desde o atentado a bomba de quarta-feira contra o edifício da Segurança Nacional, estava decidido a "empregar todas as armas em sua posse para terminar com os terroristas".Neste atentado morreram o ministro da Defesa, Daoud Rajha, seu vice-ministro e cunhado de Assad, Assef Shawkat, e o chefe da célula de crise criada para sufocar a revolta, Hassan Turkmeni. E nesta sexta-feira foi informado o falecimento do chefe da Segurança Nacional, Hisham Ikhtiyar, que havia ficado gravemente ferido no incidente.
Os funerais dos três primeiros estão previstos para esta sexta-feira, enquanto os rebeldes convocaram um "Ramadã da vitória", com protestos em todo o país após a oração semanal nas mesquitas.O regime, dominado pelos alauitas, decretou que o Ramadã (mês sagrado de jejum diurno dos muçulmanos) começará no sábado, mas a oposição, majoritariamente sunita, decidiu iniciá-lo nesta sexta-feira, a exemplo da Arábia Saudita. Na batalha diplomática, a Síria voltou a evitar na quinta-feira as sanções do Conselho de segurança da ONU, graças à Rússia e à China, que pela terceira vez vetaram estas medidas propostas pelas potências ocidentais.
A Rússia também se declarou a favor de prolongar por 45 dias e de forma incondicional a missão de observadores da ONU na Síria. Este projeto de resolução se opõe ao apresentado pela Grã-Bretanha, partidária de uma prolongação de 30 dias tendo como condição que Damasco retire suas armas pesadas das cidades. A Rússia também indicou que havia decidido adiar a entrega de três helicópteros de combate e de um sistema de defesa antiaérea ao governo sírio até que a situação no país esteja normalizada, informou a agência russa Interfax, citando uma fonte militar-diplomática.
O embaixador russo em Paris, Alexandre Orlov, disse nesta sexta-feira que Assad estaria disposto a "partir", mas "de uma maneira civilizada". No entanto, depois de ser desmentido de forma taxativa pela televisão síria, corrigiu a declaração e a atribuiu ao pressuposto de que o presidente tivesse aceitado um acordo para a transição democrática. Segundo o OSDH, cerca de 17.000 sírios morreram nos confrontos ou devido à repressão dos protestos desde o início da revolta contra Assad, em março de 2011.