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Ondas de violência fazem centenas de pessoas fugirem da capital síria

Damasco - Centenas de pessoas fugiam nesta quinta-feira (19/7) dos bairros de Damasco, cenário de combates de extrema violência, após o atentado da véspera que custou a vida de três altos dirigentes do regime, entre eles o cunhado do presidente Bashar al-Assad.

Na capital, a rotina foi visivelmente alterada, com a maioria das lojas do centro fechadas e poucas pessoas circulando em ritmo apressado. Os moradores estão fugindo por temer uma ofensiva governamental nos arredores de bairros como o de Mazzé, onde foram registrados disparos de helicópteros, informou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), ONG com sede em Londres.

Segundo o OSDH, nesses combates cinco soldados morreram, enquanto os disparos rebeldes atingiram um helicóptero e destruíram veículos militares. Mais de 200 pessoas, em sua maioria civis, morreram na quarta-feira (18/7) na Síria, 38 delas em Damasco. Ao menos 214 pessoas, entre elas 124 civis, 62 soldados e 28 rebeldes morreram em todo o país, segundo o OSDH, que não incluiu em seu registro os três funcionários de alto escalão sírios falecidos no atentado no centro da capital.

A morte desses altos dirigentes da segurança ligados ao presidente sírio marcou "o começo do fim do regime", afirmou nesta quinta-feira um porta-voz da oposição. "O que aconteceu ontem é um sinal do começo do fim deste regime (...), é um grande golpe aplicado no (chefe de Estado) e no aparato de segurança e da repressão do regime", afirmou George Sabran, porta-voz do Conselho Nacional Sírio (CNS), principal coalizão da oposição. "Esse golpe mostrou que o regime não representa nada mais no futuro da Síria e que já faz parte do passado", acrescentou Sabran.

[SAIBAMAIS]"É um novo sinal de que o regime se encaminha para o fim, já que o atentado aconteceu a menos de 500 metros do palácio presidencial, no mesmo lugar onde Bashar al-Assad dá suas ordens de atirar nas pessoas", prosseguiu. "Pedimos ao nosso povo que se prepare para uma nova etapa e para receber novas notícias que mostraram que o poder perde o controle não apenas das províncias e de todo do país, como também das instituições militares e de segurança", indicou o porta-voz, que também pediu que sejam preservadas "as instituições do Estado para que continuem funcionando normalmente".



O ministro sírio da Defesa morreu nesta quarta-feira junto com seu vice-ministro e com o chefe da luta contra a rebelião em um atentado a bomba em Damasco, que atingiu em cheio a cúpula de segurança do presidente Assad. As mortes do ministro da Defesa, Daoud Rajha, e de seu vice-ministro, Assef Shawkat, cunhado de Assad, foram anunciadas pela televisão estatal, que também confirmou a do chefe da célula de crise, Hassan Turkmeni, em um atentado reivindicado pelo Exército Sírio Livre (ESL), formado por desertores e civis armados. A China condenou energicamente o atentado e pediu a todas as partes que cessem imediatamente a violência.

Os Estados Unidos, por sua vez, consideraram que o regime está perdendo o controle do país e pediram à comunidade internacional que pressione para uma transição política de poder que evite uma sangrenta guerra civil. A votação no Conselho de Segurança da ONU da resolução sobre a Síria, prevista inicialmente para quarta-feira, foi adiada para esta quinta-feira a pedido de Kofi Annan, que ainda espera um acordo com Moscou. Segundo o embaixador chinês Li Baodong, as negociações vão prosseguir com o objetivo de se chegar a "um acordo sobre um documento consensual".

O capítulo VII da Carta das Nações Unidas prevê medidas coercitivas para pressionar um país a acatar uma decisão da ONU. A resolução apresentada por França, Estados Unidos, Alemanha, Portugal e Reino Unido evoca unicamente eventuais sanções econômicas e diplomáticas - e não o uso da força -, caso o Exército sírio continue a utilizar suas armas contra a oposição. Moscou se opõe às sanções contra a Síria e apresentou um projeto de resolução rival, mas que tem poucas chances de ser adotado.

O Conselho tem até sexta-feira para aprovar uma resolução sobre o destino dos 300 observadores da Missão de Observação da ONU na Síria (Misnus), cujo mandato expira na mesma data. Os ocidentais querem aumentar sua pressão sobre Damasco, enquanto a Rússia simplesmente quer prorrogar a missão.