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Governo russo descarta ideia de pressionar saída de Bashar al-Assad

Damasco - A revolta contra o regime sírio vive uma guinada com violentos combates nesta segunda-feira (16/7) entre as tropas do regime e os rebeldes perto do centro da capital, Damasco, símbolo do poder do presidente Bashar al-Assad.

Fato inédito, o exército, utilizando blindados e veículos de transporte de tropas, foi mobilizado no bairro de Midan, perto do centro da capital. Ao mesmo tempo, os confrontos prosseguiam, pelo segundo dia consecutivo, em vários bairros periféricos do sul, do oeste e do leste de Damasco, hostis ao regime, segundo uma ONG síria e militantes opositores.

Os rebeldes sírios afirmam ter expulsado o exército regular de dois bairros de Damasco. O porta-voz do conselho militar dos rebeldes para a região de Damasco afirmou à AFP que o exército perdeu o controle do bairro de Midan e de Tadamun, ambos hostis ao presidente sírio Bashar al Assad.

Dois civis e dois rebeldes teriam morrido nos confrontos nestes bairros, segundo o Observatório Sírios dos Direitos Humanos (OSDH).

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) considerou que os combates na Síria são uma situação de guerra civil e ressaltou, em uma mensagem a todas as partes, que "deve ser aplicado o direito internacional humanitário".

"É a primeira vez em que há blindados e transporte de tropas em Midan. Antes, as forças de ordem foram mobilizadas para reprimir as manifestações. Hoje há soldados que participam dos combates", indicou à AFP Rami Abdel Rahmane, diretor do opositor Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

Até agora, a capital vivia com fortes medidas de segurança e estava controlada principalmente pela quarta divisão do primeiro corpo do exército dirigida por Maher al-Assad, irmão do presidente.

Contra as forças do regime está o Exército Sírio Livre (ESL), composto principalmente por militares desertores escassamente equipados em comparação com o poder de fogo do regime, embora com mais mobilidade. Também contam com o apoio de parte da população.

"A revolução se estende e fecha o cerco ao redor do regime nas zonas nas quais se acreditava que estavam a salvo da ira do povo", reagiu a oposição no domingo. O jornal Al-Watan, próximo ao regime, intitulou "Damasco, não a terão", em direção aos opositores. "As forças de segurança apoiadas pelo exército atacam há 48 horas os grupos terroristas que tentam se entrincheirar nos bairros periféricos" do sul de Damasco, afirma o Al-Watan.

"O que acontece em Damasco é uma guinada", considerou Abdel Rahmane. "Quando há combates na capital que continuam durante horas, talvez dias, significa que as tropas regulares não chegam a controlar a situação, e isso ilustra a debilidade do regime", acrescentou.

"São os primeiros combates deste tipo em Damasco. O dia 15 de julho marca uma guinada na revolução síria", afirmou nesta segunda-feira à AFP um militante de Damasco contatado por Skype e que se apresentou como Abu Musab.



Os bombardeios foram retomados no início desta segunda-feira no bairro rebelde de Tadamun e se intensificaram no início da tarde, segundo militantes. Além de Midan e Tadamun, Kafar Sousse, Khobar, Qadam, Nahr Aishe e Al-Aasali estão entre os bairros periféricos afetados pelos combates.

Segundo Abu Musab, "muitos moradores de Tadamun deixaram este bairro muito povoado e com ruas estreitas". No resto do país, os bairros rebeldes de Homs (centro), cercados há semanas, também eram bombardeados, segundo o OSDH.

Assad não irá embora


Em Moscou, onde o enviado especial da ONU e da Liga Árabe, Kofi Annan, se encontra, o ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, ressaltou que "não é realista" esperar que seu país possa convencer o presidente sírio Bashar al-Assad a deixar o poder, como afirmam as potências ocidentais.[SAIBAMAIS]

O presidente Assad "não partirá, não porque o apoiemos, mas simplesmente porque uma parte significativa da população da Síria o apoia", acrescentou.

Lavrov, que posteriormente manteve um jantar informal com Annan, acusou, por sua vez, as potências ocidentais de exercerem "uma chantagem" para obrigar Moscou a aceitar as sanções do Conselho de Segurança da ONU contra o regime de Damasco, ameaçando, caso contrário, se recusar "a prolongar o mandato da missão de observadores" na Síria.

Esta declaração ocorre quando o presidente Vladimir Putin deve receber o enviado da ONU e da Liga Árabe em Moscou, encontro durante o qual a "Rússia ressaltará seu apoio ao plano de paz de Kofi Annan". "Do ponto de vista russo, partimos do princípio de que este plano é a única plataforma viável para resolver os problemas internos da Síria", ressaltou o Kremlin.

Em Genebra, John Ging, diretor de operações do Centro de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU, denunciou que o governo sírio é responsável "por uma política de obstrução massiva" que impede ajudar cerca de 850 mil pessoas em necessidade na Síria.