Acusados dos mesmos crimes, o general Mladic, 70 anos, e o dirigente político Karadzic, 67 anos, permaneceram foragidos por anos, mas agora são julgados pelo Tribunal Penal Internacional para a Antiga Iugoslávia (TPII), em Haia (Holanda). Na última segunda-feira, a primeira testemunha no processo de Mladic foi ouvida, mas o processo foi suspenso após a hospitalização do acusado, que desmaiou na Corte. O processo deverá ser retomado amanhã. O general ganhou o apelido de ;açougueiro dos Bálcãs; e passou 16 anos foragido, até ser preso na Sérvia, em 2011.
Karadzic foi encontrado em Belgrado em julho de 2008. Em junho passado, a defesa conseguiu que fosse retirada uma das acusações, mas ele continua a ser julgado pelo genocídio de Srebrenica, além de mais nove crimes contra a humanidade e crimes de guerra cometidos durante a Guerra da Bósnia (1992-1995). O conflito deixou 100 mil mortos e 2,2 milhões de deslocados.
PARA SABER MAIS
Conflito sem limites
Em 1990, nas primeiras eleições livres da Iugoslávia, forças nacionalistas venceram nas diversas repúblicas que integravam a federação comunista. Na Bósnia-Herzegovina, formou-se um governo multiétnico, composto por muçulmanos, sérvios e croatas e presidido pelo bósnio Alija Izetbegovic. Em outubro do ano seguinte, o parlamento bósnio declarou a independência.
Os sérvios, opositores do novo Estado, romperam com o governo multiétnico e anunciaram a intenção de permanecer na Iugoslávia ou em uma Grande Sérvia, que incluiria partes da Bósnia e da Croácia. Na tentativa de contornar a crise, o governo bósnio convocou em 1992 um plebiscito, boicotado pelos sérvios. O país passa a ser reconhecido pela União Europeia e pelos Estados Unidos, mas submerge na guerra civil.
No início do conflito, os sérvios se opunham a uma aliança muçulmano-croata e recorreram à prática que ficou conhecida como "limpeza étnica" ; a remoção forçada, e eventual assassinato em massa, das etnias rivais. A operação deixa um rastro de foragidos, campos de concentração e cemitérios clandestinos. Croatas e bósnios também cometeram massacres, mas em menor escala. O governo bósnio pede uma intervenção externa, mas recebe apenas ajuda humanitária.
Em 1993, a Croácia entrou na guerra e reivindicou parte do território bósnio, mas logo voltou-se contra a Sérvia. A Organização das Nações Unidas (ONU) enviou uma força de paz, mas no mesmo ano os sérvios dominavam 70% da Bósnia. Somente dois anos depois a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) interveio no conflito, com cobertura da ONU, bombardeando posições sérvias. Derrotas militares sérvias em território da Croácia e da Bósnia equilibraram as forças e facilitaram a costura de uma proposta de paz pelos Estados Unidos. A guerra terminou em novembro de 1995, com a assinatura do Acordo de Dayton.