Beirute - A Síria confirmou nesta quinta-feira (12/7) a primeira deserção de um de seus embaixadores, mas recebeu mais uma vez o apoio da Rússia, que rejeitou um projeto de resolução apresentado à ONU pelos ocidentais.
Enquanto isso, o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, anunciou que o general Manaf Tlass, que havia desertado na semana passada, entrou em contato com a oposição síria.
Nesta quinta-feira (12/7), a violência já registrava 45 mortos em todo o país.
Na quarta-feira à noite (11/7), o embaixador sírio no Iraque, Nawaf Fares, anunciou a sua deserção em uma mensagem de vídeo divulgada pela rede Al-Jazeera, do Qatar. Ele também pediu ao Exército sírio que "se una imediatamente à revolução".
O Ministério sírio das Relações Exteriores anunciou que "Nawaf Fares foi destituído de suas funções", considerando que suas declarações à imprensa na véspera eram "contrárias ao seu dever, que consiste em defender as posições e a causa de seu país". "Ele deve, por isso, ser julgado pela justiça e levado ao conselho disciplinar", acrescentou o ministério.
Ao comentar essa deserção, o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, considerou que há todos os dias "cada vez mais indícios de que Assad está prestes a perder o controle".
Desconfiança dos militantes
Segundo Bagdá, Fares está no Qatar, um emirado hostil ao governo de Bashar al-Assad, que reprime violentamente há cerca de 16 meses um movimento de contestação. Sua deserção representa um novo golpe contra o regime sírio, alguns dias depois da de Manaf Tlass, um general próximo do presidente Assad.
Nawaf Fares, um sunita, começou como policial antes de trabalhar para os temidos serviços de inteligência, para depois se tornar um dos líderes do partido Baath, governador e, por fim, diplomata. Essa trajetória suscita a desconfiança dos militantes. "Sei que esse homem é um criminoso", afirmou o presidente do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman. "É muito parecido com a história de Manaf Tlass (...), os serviços de inteligência ocidentais procuram selecionar personalidades que possam ser utilizadas por um período transitório", considerou.
Um militante de Hama (centro) se apresentando como Abu Ghazi, compatrilha da mesma opinião: "as pessoas estão muito desconfiadas sobre as motivações que o levaram a desertar. Talvez (...) a comunidade internacional e o regime procurem formar um governo consensual e essa deserção faça parte deste cenário".
Em Paris, o chanceler francês disse saber que existe "uma proximidade entre a oposição e (o) general" Tlass e que "contatos foram feitos neste sentido", sem confirmar se Manaf Tlass se encontra atualmente em Paris.
Projeto "inaceitável"
No plano diplomático, a Rússia, forte aliada de Damasco, classificou de "inaceitável" o projeto de resolução sobre a Síria apresentado na quarta-feira à ONU pelos ocidentais, ameaçando impor seu veto caso o plano fosse submetido a votação no Conselho de Segurança nesta quinta-feira (12/7). "Seu projeto não é equilibrado", são impostas obrigações apenas ao governo sírio, e, por isso, é "inaceitável", declarou o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Guennadi Gatilov, citado pela agência de notícias Interfax.
Já os Estados Unidos ameaçaram não prolongar o mandato da missão de observadores da ONU na Síria (Misnus) se o Conselho não utilizar as sanções como meio de pressão sobre Bashar al-Assad, segundo diplomatas. Em seu texto, europeus e americanos dão dez dias para que o regime de Damasco retire suas tropas e armas pesadas das cidades rebeldes, sob pena de sanções econômicas.
No terreno, a violência causou a morte de pelo menos 45 pessoas, incluindo nove em um violento ataque contra uma aldeia da região de Hama, segundo o OSDH. "As forças do governo bombardearam Treimsa com tanques e helicópteros", afirmou a ONG, indicando que ao final dos combates, elas haviam penetrado na localidade.
A organização Repórteres sem fronteiras (RSF) condenou o assassinato de dois jornalistas-cidadãos. Suhaib Dib, um estudante, foi assassinado no dia 4 de julho pelas forças de ordem em Al-Meliha (subúrbio de Damasco), e Omar al-Ghantawi foi morto em 21 de junho por um franco-atirador em Homs (centro), segundo a ONG. A RSF pediu a libertação de todos os jornalistas presos na Síria.
A ONG Human Rights Watch suspeita que Damasco utilize bombas com submunições de fabricação soviética na região de Hama.