A briga pelo coração dos egípcios transformou-se ontem em um jogo de paciência entre as instâncias de poder ; Executivo, Legislativo, Judiciário e os militares. Deputados da maioria islâmica desafiaram a Justiça, que determinou a dissolução da Assembleia do Povo, e realizaram uma sessão relâmpago no Cairo, com valor simbólico, na qual decidiram recorrer à Corte de Cassação contra a Suprema Corte, que declarou nula a eleição parlamentar de novembro passado. A decisão dos deputados estava amparada em decreto do presidente recém-empossado, Mohamed Morsy, da Irmandade Muçulmana, que decretou a restauração da assembleia ; mas foi desautorizado pela Suprema Corte, que declarou nulo o decreto presidencial. A queda de braço, que se arrasta desde a renúncia do ditador Hosni Mubarak, em 2011, inflamou novamente a simbólica Praça Tahrir, no Cairo, onde milhares de manifestantes se reuniram em apoio a Morsy.
O Conselho Superior das Forças Armadas, junta militar que assumiu o comando da transição política, reiterou a advertência ao presidente para que respeite a Constituição, enquanto Morsy insistiu que os militares acatem a vontade manifestada nas urnas. Segundo John Hamilton, diretor do escritório londrino da consultoria Cross-Border Information, que faz análise de países em reconstrução, essa disputa é crucial para o presidente e poderá valer sua ;legitimidade;. Especialista em Oriente Médio e Norte da África, Hamilton avalia que está em jogo o controle sobre a Assembleia Constituinte que redigirá a nova Constituição. ;O futuro do Egito como país democrático está absolutamente em teste;, afirmou, em entrevista ao Correio.