Moyano, líder da grande central operária CGT e do Sindicato de Caminhoneiros, pôs em xeque o governo esta semana com uma greve que durou dois dias e deixou o país à beira de um colapso no abastecimento de combustíveis.
"O confronto entre Moyano e a presidente torna explícita uma divisão dentro do peronismo. Creio que Moyano vai tentar aprofundá-la e, sobretudo, levar à polarização", disse o sociólogo Manuel Mora y Araujo.
O analista, presidente da consultoria IPSOS e vice-presidente da Universidade Torcuato Di Tella, disse que "não é certo se Moyano terá êxito ou não em aprofundar essa polarização".
Com o objetivo de intensificar este conflito, o sindicalista convocou para a próxima quarta-feira uma greve nacional e uma marcha para a histórica Praça de Maio de seus seguidores caminhoneiros e de cerca de 50 associações aliadas da CGT.
"Não há espaço para os dois (Moyano e Kirchner). São como dois trens a ponto de se chocar", disse o sociólogo e cientista político Jorge Giacobbe.
Giacobbe, titular da consultoria homônima e assessor da Transparência Internacional, disse ao blog iprofesional.com que "a questão passou a ser quem pode retirar milhares de pessoas das ruas. E o desafio da presidente é evitar que essas pessoas sejam de Moyano".
A disputa foi desencadeada pelo objetivo de Kirchner de retirar Moyano da liderança da CGT e apoiar a ascensão do líder dos metalúrgicos, Antonio Caló.
"Suponho que Cristina tenha avaliado o impacto que isto vai gerar e o custo que terá para ela, que preferia pagar e não ter Moyano ao seu lado", disse o diretor da prestigiosa consultoria Poliarquía, Fabián Perechodnik, à rádio FM Latina.
O restante dos sindicatos da Confederação Geral do Trabalho (CGT), que tem 8 milhões de afiliados, se mantém em silêncio frente ao conflito e espera o congresso de renovação de autoridades no dia 12 de julho.
Moyano ocupou com isso subitamente o vazio deixado por uma oposição em baixa desde o categórico triunfo eleitoral que levou à reeleição de Kirchner com 54% dos votos em 2011.
Nem a segunda força legislativa, a social-democrata União Cívica Radical, nem a centro-esquerdista Frente Ampla Progressista, segundo nas eleições do ano passado, nem o peronismo dissidente, contam com figuras de peso.
"O enfrentamento entre Moyano e a presidente torna explícita uma divisão dentro do peronismo, que não é nada nova", analisou Mora y Araujo.
Moyano foi um aliado tático do falecido ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007) e de sua esposa e sucessora, cujo primeiro mandato foi entre 2007 e 2011.
Mas a intenção do governo de retirá-lo da central operária, tradicional aliada dos governos peronistas, foi una declaração de guerra e as hostilidades tiveram início.
O governo apresentou uma pouco frequente denúncia penal contra Moyano por ter desobedecido uma conciliação obrigatória ao negociar salários com as patronais e por ter atentado contra a segurança pública.
"O momento para polarizar pode ser propício a Moyano, por uma previsível tendência à estagflação", acrescentou Mora y Araujo.
A situação deixou de ser cômoda para Kirchner, com a perda de ritmo da economia, que crescia a 8% ao ano e com previsões de uma recessão mesclada explosivamente com uma inflação real de 25% anual, segundo as consultorias econômicas.