A violência em La Paz começou cedo nesta sexta-feira, quando cerca de 200 policiais, à paisana e com os rostos cobertos, atacaram com fúria a Direção Nacional de Inteligência, onde também se encontra o Tribunal Disciplinar da Polícia, a uma quadra da Praça de Armas.
"Motim, motim, motim policial", gritaram os policiais, que retiraram do local principalmente documentos, móveis, computadores e até bandeiras e os queimaram nos arredores das duas unidades policiais.
A fúria aumentou quando no interior do Tribunal Disciplinar foram encontradas centenas de latas de cerveja, que também foram destruídas. "Aqui os chefes policiais bebem, mas nos punem quando apenas chegamos com bafo (de álcool no hálito)", disse um policial. "Não temos medo, caralho, não temos medo, caralho", gritaram os policiais à paisana, que agrediam qualquer pessoa de quem desconfiassem, inclusive verbalmente os jornalistas mobilizados no local.
O motim e a tomada de quartéis e comandos policiais se estenderam para nove das dez principais cidades do país: La Paz, Oruro, Cochabamba, Santa Cruz, Potosí, Tarija, Sucre, Trinidad e Cobija. Apenas El Alto, vizinha a La Paz, aparentava normalidade.
O comando de Cochabamba, no centro do país, foi saqueado, da mesma maneira que o de La Paz. "O protesto é em todo o país, estamos aquartelados e em vigília, até que o governo nos ouça", afirmou o sargento Omar Huayllana, líder dos policiais de baixa patente de Cochabamba.
A situação era mais tensa nas prisões de La Paz e Santa Cruz, onde centenas de militares, embora não estejam amotinados, permanecem em vigília, fechando as portas de entrada para impedir a visita dos familiares aos presos. Não há vigilância policial nas principais ruas da Bolívia, embora eles tampouco tenham deixado desguarnecidas as unidades bancárias, onde o atendimento ao público foi normal.
Os conflitos tiveram início na quinta-feira (21/6), quando cerca de 50 esposas de policiais iniciaram uma greve de fome, apoiando as exigências de seus cônjuges.
Nenhuma autoridade do Poder Executivo saiu para dar uma posição pública e, e apenas o comandante nacional da Polícia, coronel Víctor Maldonado, se pronunciou. "Estamos pedindo calma a nossos irmãos camaradas, porque há avanços no diálogo", informou Maldonado, que disse que foi aberta uma mesa de diálogo com o sindicato de sargentos, embora não tenha fornecido detalhes das negociações.