Azaria Chamberlain, uma bebê de apenas nove semanas, desapareceu de uma barraca perto de Uluro, ou Ayers Rock, em 17 de agosto de 1980, quando a família acampava perto de famoso monolito vermelho do centro da Austrália, um local sagrado para os aborígenes.
O corpo não foi encontrado. Lindy, a mãe, foi condenada pelo assassinato da criança e presa. O pai foi condenado a uma pena de prisão, mas com suspensão condicional, por cumplicidade. A mãe sempre afirmou que a filha havia sido levada por um dingo. Nesta terça-feira, 32 anos depois do caso, a justiça australiana deu razão a Lindy.
"Acredito que um dingo agarrou Azaria e a arrastou para longe da barraca", declarou Elizabeth Morris, legista, no Tribunal de Justiça de Darwin (norte). "Existem provas de que um dingo é capaz de atacar, apoderar-se e causar a morte de crianças muito pequenas", acrescentou.
"Lamento profundamente a morte de sua filha tão especial e amada Azaria", disse Morris, antes de completar que "o tempo não suaviza a dor e a amargura pela morte de um filho". A justiça entregou aos pais da menina uma certidão de óbito revisada, no último capítulo de um caso que dividiu o país durante mais de 30 anos.
Diante do tribunal, Lindy Chamberlain-Creighton, que mais tarde se divorciou do pai de Azaria e se casou novamente, manifestou sua emoção. "Naturalmente, estamos aliviados e satisfeitos de chegar ao fim desta odisseia", afirmou Lindy, que tem mais três filhos. "A Austrália não poderá mais dizer que os dingos não são perigosos e só atacam quando são provocados. Vivemos em um país lindo, mas perigoso", completou.
"Por fim sabemos a verdade", declarou o pai de Azaria, Michael Chamberlain. "Esta foi uma batalha terrível", insistiu. A primeira investigação corroborou as afirmações da mãe, mas depois foi modificada. Lindy Chamberlain foi condenada por assassinato depois de um processo que dividiu a opinião pública. Na prisão, ela deu à luz o quarto filho.
Depois que foram encontrados, por acaso, pedaços da roupa de Azaria perto de tocas de dingos em 1986, a condenação foi anulada e Lindy Chamberlain foi liberada. Uma terceira investigação, em 1995, não conseguiu chegar a uma conclusão. O caso foi reaberto pela justiça australiana após novas informações sobre ataques de dingos. Estes cães selvagens mataram um menino de nove anos em 2001 e uma menina de dois anos em 2005.
O desaparecimento de Azaria Chamberlain foi levado ao cinema em 1988 com o filme "Um grito no escuro". A atriz americana Meryl Streep interpretava a mãe, que luta por sua inocência, e Sam Neill interpretou o pai. Por sua atuação, Streep venceu o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes e foi indicada ao Oscar. O caso também inspirou uma série de televisão, vários livros e até uma ópera, o que aumentou ainda mais o interesse do público pela tragédia.