Nova York - Quatro dias após o massacre de Houla (centro da Síria), os 15 países membros do Conselho de Segurança da ONU continuam a apoiar o plano de paz de Kofi Annan, mas permanecem divididos sobre os meios de aumentar a pressão sobre Damasco para que cumpra seus compromissos.
Ao término de uma nova reunião a portas fechadas do Conselho nesta quarta-feira, os ocidentais abordaram as sanções contra o governo sírio, mas a Rússia reiterou sua oposição.
"Continuamos a recusar as sanções", afirmou à imprensa o embaixador russo Vitaly Tchurkin. Ele afirmou que "ninguém respeita o plano Annan", nem a oposição, "que se recusa a iniciar um diálogo político", nem o poder.
"Já existem sanções bilaterais que têm um impacto muito severo sobre a população síria", ressaltou.
Os embaixadores dos 15 países ouviram os relatos por videoconferência de Jean-Marie Guéhenno, assessor de Kofi Annan, e do chefe de operações de manutenção da paz, Hervé Ladous. Annan deve se reunir com os membros do Conselho na próxima quinta-feira.
Falando à imprensa a partir de Genebra, onde se encontra, Guéhenno pediu de Damasco "gestos concretos e significativos para por fim à violência, incluindo a libertação de presos e o acesso humanitário".
Para a embaixadora americana Susan Rice, "a melhor solução será o governo sírio respeitar seus compromissos com os termos do plano Annan, mas isso não parece um cenário muito provável". Caso contrário, acrescentou ela, "o Conselho deverá assumir suas responsabilidades e aumentar a pressão sobre o governo sírio (e) isso poderá incluir sanções".
Ela reconheceu, entretanto, "divergências de pontos de vista" sobre as sanções. "Este debate continua em Nova York e nas capitais".
Segundo Rice, este "parece ser o pior cenário possível no momento": escalada da violência, "crise regional" e "a morte do plano Annan".
Para o embaixador alemão Peter Wittig, o Conselho deve "ter como objetivo impor sanções àqueles que tentarem comprometer" o plano Annan.
Ele sugeriu discutir nos próximos dias um eventual reforço da Missão de Supervisão da ONU na Síria (MISNUS), que conta hoje com cerca de 300 militares desarmados, ressaltando que ela deve dispor de seus próprios meios de transporte aéreo.
Ele também defendeu a criação de uma "comissão de investigação independente coordenada pelo Conselho" sobre as violações dos direitos humanos na Síria.
Para o representante permanente adjunto da França Martin Briens, "apenas uma pressão mais forte pode permitir uma mudança de atitude das autoridades sírias". A França vai "trabalhar com a Rússia para encontrar um meio de avançar". "Não podemos esperar mais se quisermos salvar o plano Annan", acrescentou.
"Devemos discutir com os russos medidas suplementares que o Conselho pode tomar para aumentar a pressão sobre todas as partes, mas priorizando o governo sírio", explicou o embaixador britânico Mark Lyall Grant.
O Conselho adotou no domingo por unanimidade uma declaração condenando o governo sírio pelo massacre de Houla, que deixou pelo menos 108 mortos e levou vários países, incluindo França, Estados Unidos e Japão, a expulsar representantes diplomáticos sírios.
Tchurkin criticou essas expulsões, afirmando que elas "podem ser interpretadas de maneira errada como uma condição prévia a uma intervenção militar estrangeira" na Síria.