Dublin - Eleitores irlandeses estão prontos, ainda que a contragosto, para aprovar na quinta-feira (31/5) o pacto orçamentário da União Europeia (UE) destinado a salvar a zona do euro, com os líderes políticos enfatizando que essa votação pode determinar a resposta à Irlanda por mais ajuda.
O tratado por Sustentabilidade, Coordenação e Governança, estimulado pela Alemanha, prevê penalizações aos países que não equilibrarem seus orçamentos e é projetado para ajudar a restaurar a confiança na conturbada moeda única da Europa.
Contudo, com o aumento da contrariedade europeia com relação às medidas antiausteridade, o referendo irlandês - o único que foi feito na Eurozona - será observado de perto.
Por si só, um voto "não" irlandês não iria afundar o pacto, que foi assinado pelos líderes de todos os membros da UE, exceto da Grã-Bretanha e da República Checa, sendo que ele terá efeito uma vez que 12 dos 27 países o ratificarem.
Contudo, até agora só Romênia, Portugal, Grécia e Eslovênia carimbaram o tratado e uma rejeição irlandesa pode incentivar outras nações a abandonar o navio.
As pesquisas de opinião, no entanto, sugerem clara vantagem para o governo entre os 3,1 milhões de eleitores da Irlanda. Quatro pesquisas feitas no fim de semana apontaram que, entre aqueles que já se decidiram, 60% planeja apoiar o pacto.
Em um último apelo televisivo na noite de domingo, o primeiro-ministro irlandês, Enda Kenny, disse: "Um voto sim forte criará a segurança e estabilidade que o nosso país precisa para continuar na estrada para a recuperação econômica.
"Apenas um voto "sim" dará à Irlanda garantia de acesso ao fundo de resgate europeu permanente, o Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM), caso a Irlanda precise dele", acrescentou Kenny, o líder do partido centrista Fine Gael.
A Irlanda foi forçada a buscar um pacote de resgate de 85 bilhões de euros (106 bilhões de dólares) da UE e do Fundo Monetário Internacional (FMI) em 2010, após o estouro da bolha da imobiliária no país e com seu sistema bancário mergulhado em crise.
Com o quase colapso do chamado "Tigre Celta" ainda fresco na memória dos cidadãos, o governo parece ter conseguido convencer os eleitores de que o tratado é necessário para que a Irlanda consiga obter mais ajuda financeira através do ESM.
"Um referendo irlandês é geralmente uma oportunidade para dar um chute no governo, mas desta vez há um fator de medo real", disse à AFP Brian Lucey, professor de Finanças da Trinity College, em Dublin.
"Eu acho que vai ser um grande sim. As pessoas acreditam que vamos precisar do dinheiro e não há outra opção até o momento além do ESM", afirmou Lucey.