Teerã - O Irã rejeitou neste domingo (27/5) abandonar o enriquecimento de urânio a 20%, exigido pelas grandes potências mundiais para resolver a crise provocada pelo programa nuclear iraniano. "Não há razão para ceder no enriquecimento a 20% porque produzimos combustível a 20% para nossas necessidades, nem mais, nem menos", declarou Fereydoon Abbassi Davani, chefe do programa nuclear iraniano.
O enriquecimento de urânio a 20% provoca inquietações na comunidade internacional sobre a finalidade do programa nuclear iraniano, que, segundo Teerã, é estritamente pacífico. Por sua vez, as potências ocidentais suspeitam que tem um objetivo militar, para dotar o país de uma bomba atômica. Enriquecido a 5%, o urânio serve de combustível para as centrais nucleares. A 20%, alimenta os reatores de pesquisa. Mas acima de 90% pode servir para fabricar uma bomba atômica.
Abbassi Davani lembrou que o Irã havia começado em 2010 a enriquecer urânio a 20% para produzir combustível para seu reator de pesquisas nucleares de Teerã, depois do fracasso das negociações com as grandes potências sobre a entrega deste combustível em troca de uma parte das reservas de urânio fracamente enriquecido. "Precisamos controlar todo o ciclo do combustível de urânio", explicou Abbassi Davani.
As grandes potências do grupo "5%2b1" (Estados Unidos, Rússia, China, França, Grã-Bretanha, além de Alemanha) exigiram nesta semana do Irã, em negociações realizadas em Bagdá, que não enriquecesse urânio para além de 5%, e transferisse para fora do país suas reservas atuais de cerca de 100 quilos de urânio a 20%.
Esta medida é um dos principais gestos pedidos ao Irã para dissipar dúvidas sobre seu programa nuclear, condenado por seis resoluções do Conselho de Segurança da ONU, quatro delas com sanções.
Exportações
Teerã sempre afirmou que seu direito de enriquecer urânio no âmbito do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) era um assunto de soberania "não negociável". Além disso, o chefe do programa nuclear iraniano se referiu neste domingo à possibilidade de que Teerã comece a exportar urânio a 20%, uma ameaça que não é nova, mas que aparece como uma provocação no contexto atual.
Este endurecimento da posição do Irã ocorre pouco depois de a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) anunciar na sexta-feira a descoberta de restos de urânio enriquecido a 27% na usina nuclear subterrânea de Fordo, ao sul de Teerã. O Irã se referiu a um problema técnico, uma explicação plausível, segundo especialistas ocidentais, embora a AIEA tenha pedido informações adicionais.
Por sua vez, neste mesmo domingo a República Islâmica anunciou que construirá uma nova central na cidade de Bushehr, no sul, no início de 2014. "O Irã construirá uma usina nuclear de 1.000 megawatts em Bushehr no próximo ano", disse Abbassi Davani, citado pela televisão estatal.
A central será levantada em Bushehr ao lado da atual central construída pela Rússia. Abbassi Davani não informou se a nova central também contará com a cooperação da Rússia. A televisão estatal fez este anúncio poucos dias depois das negociações da última quarta-feira em Bagdá entre o Irã e as grandes potências.
Estas negociações refletiram as notáveis divergências entre ambas as partes, que, no entanto, concordaram em realizar uma nova rodada de negociações em Moscou nos dias 18 e 19 de junho.