Cairo - Os dois candidatos que disputam o segundo turno das eleições presidenciais egípcias, Mohamed Mursi e Ahmed Shafiq, iniciaram no sábado (26/5) a batalha para se apresentar como os defensores da "revolução", diante de uma opinião pública claramente dividida.
Mursi, da Irmandade Muçulmana, e Shafiq, último primeiro-ministro do ex-presidente Hosni Mubarak, foram os mais votados no primeiro turno das eleições, celebrado na quarta e na quinta-feira, segundo os resultados parciais que serão divulgados oficialmente nos próximos dias.
Shafiq deu, neste sábado, sua primeira entrevista coletiva como candidato do segundo turno, durante a qual tentou eliminar a imagem de representante do antigo regime, que já lhe custou críticas severas de seus adversários durante a campanha. "Não há lugar para um retorno ao antigo regime. O Egito mudou e não podemos voltar atrás", disse Shafiq.
O ex-premier, que entregou o poder por pressão das manifestações de março de 2011, pouco após a renúncia de Mubarak, também reservou uma mensagem aos jovens. "A revolução que vocês provocaram foi confiscada e eu me comprometo com vocês a devolver seus frutos", disse.
Shafiq também estendeu a mão aos candidatos derrotados no primeiro turno "para que trabalhemos juntos pelo bem do país". Ex-comandante da Força Aérea egípcia e posteriormente ministro de Aviação Civil, o general Shafiq foi convocado a chefiar o governo nos últimos dias do regime de Mubarak.
Shafiq encontra apoio principalmente na comunidade cristã copta, que representa aproximadamente 10% da população e está visivelmente inquieta com o crescimento do islamismo. Por isso, concentrou a campanha em temas como segurança pública e estabilidade econômica.
O militar, no entanto, ainda é extremamente impopular entre os jovens, que o identificam como o candidato dos militares, atualmente no poder. A Irmandade Muçulmana, por sua vez, fez uma violenta campanha contra Shafiq na sexta-feira, ao acusá-lo de por "em risco" a revolução.
Ao mesmo tempo, a Irmandade Muçulmana tinha previsto iniciar os contatos com os candidatos derrotados no primeiro turno para negociar alianças. Dados ainda não oficiais divulgados pela imprensa indicam que Mursi teria obtido aproximadamente 25% dos votos no primeiro turno e Shafiq, 24%.
Neste cenário, o ex-presidente americano Jimmy Carter, que lidera uma organização que monitora as eleições egípcias, disse que o processo é "esperançoso" apesar das restrições impostas aos observadores.
"Gostaria de dizer que (as eleições) são, para mim, esperançosas", afirmou durante coletiva de imprensa no Cairo, embora tenha acrescentado que os observadores do seu Centro Carter sofreram "restrições (...) sem precedentes".
A imprensa egípcia destaca que depois de um ano e meio da revolta, o país deve agora escolher entre dois candidatos que representam opiniões radicalmente diferentes. "Estamos diante de um voto pró-Islã, que se opõe a um voto pró-estabilidade, e não vejo como podemos reconciliar estes extremos", disse o analista independente, Hicham Kassem.
Ele afirmou à AFP que "corremos o risco de manter o regime de Mubarak ou de islamizar o país. É uma das situações políticas mais difíceis que o Egito já conheceu".
O próximo presidente, que será eleito para um mandato de quatro anos, assumirá os destinos de um país mergulhado em uma grave crise econômica, que se soma às desigualdades herdadas do antigo regime.
Ainda não estão definidos os poderes do próximo presidente porque a antiga Constituição foi suspensa e a nova ainda não foi redigida.