Cairo - O segundo turno da eleição presidencial egípcia deverá opor o candidato da Irmandade Muçulmana, Mohammed Morsi, ao símbolo do regime do presidente deposto Hosni Mubarak, Ahmad Shafiq, segundo os resultados preliminares anunciados nesta sexta-feira (25/5) pela poderosa irmandade.
A informação não foi confirmada pela Comissão Eleitoral, que deve anunciar os resultados oficiais a partir de domingo. No início da tarde, enquanto os resultados chegavam de todas as províncias, alguns meios de comunicação egípcios relataram uma disputa acirrada entre Shafiq e o candidato de esquerda Hamdeen Sabbahi pelo segundo lugar.
Após a apuração de metade das urnas, o grupo havia indicado que Morsi liderava com 30,8% dos votos, seguido por Shafiq (22,3%), Sabbahi (20%), o islamita moderado Abdel Moneim Abul Futuh (17%) e o ex-secretário da Liga Árabe Amr Moussa (11%).
Os números da Irmandade são compilados a partir dos resultados enviados progressivamente pelos seus próprios delegados presentes nos centros de apuração. O segundo turno da primeira eleição presidencial desde a queda de Mubarak, em fevereiro de 2011, está previsto para os dias 16 e 17 de junho. Um porta-voz da equipe de campanha de Shafiq, Karim Salem, não foi capaz de confirmar os números da Irmandade, mas disse que estava "confiante" de que o candidato estaria no segundo turno.
Considerado "o candidato substituto" da Irmandade Muçulmana, após o veto pela comissão eleitoral de sua primeira opção, Khairat al-Chater, Morsi tem se beneficiado da máquina eleitoral e da base militante da poderosa irmandade. A Irmandade, oficialmente proibida há mais de 50 anos no Egito e pesadelo do regime de Mubarak, já havia vencido as eleições legislativas de janeiro.
Ahmad Shafiq, por sua vez, centrou a campanha na segurança e estabilidade, com o objetivo de reunir os egípcios frustrados com a agitação política e a deterioração da situação econômica desde o levante popular que derrubou Mubarak, em plena Primavera Árabe. Morsi e Shafiq são os candidatos menos consensuais entre as 12 personalidades que disputam à presidência do país mais populoso do mundo árabe.
O ex-primeiro-ministro é odiado pelos partidários da "revolução", para quem sua eventual vitória significaria a morte de seus ideais. O ex-comandante do Estado-Maior da Força Aérea é considerado por muitos como o candidato do antigo regime e dos militares, no poder desde a queda do "rais".
Os críticos de Morsi o consideram como um fantoche da Irmandade, além de possuir uma visão islâmica muito conservadora em detrimento dos interesses nacionais. Depois de décadas de eleições forjadas, esta é a primeira vez que os egípcios escolhem livremente o seu chefe de Estado.
Quinta-feira à noite, horas antes do fechamento das urnas, o presidente da Comissão Eleitoral, Farouk Sultan, estimou o comparecimento em 50%, indicando que a eleição foi realizada de forma "calma e organizada". Os Estados Unidos felicitaram o Egito por esta eleição, descrita como "histórica", e dizendo estar prontos a cooperar com qualquer governo "eleito democraticamente".
A eleição deve acabar com um período de transição marcado por protestos e violência. O Conselho Militar, acusado pelos ativistas pró-democracia de continuar com política de repressão do antigo regime, prometeu entregar o poder antes do final de junho.
Os poderes do futuro presidente, no entanto, permanecem pouco claros, a Constituição vigente durante o regime Mubarak foi suspensa e a elaboração da futura lei fundamental ainda não começou. O chefe de Estado terá de enfrentar uma grave crise econômica, que combina as extremas desigualdades sociais herdadas a desaceleração acentuada da atividade, particularmente no setor do turismo.
Aos 84 anos, Mubarak, que governou por quase 30 anos, foi hospitalizado perto de Cairo. Julgado pela morte de manifestantes durante a revolta e acusado de corrupção, ele vai saber o seu destino em 2 de junho. A promotoria pediu a pena de morte.