Cairo - O primeiro turno das eleições presidenciais no Egito foi concluído nesta quinta-feira (24/5), após dois dias de votação sem maiores incidentes nos quais se decide o sucessor de Hosni Mubarak entre islamitas e membros do antigo governo.
Os resultados deste primeiro turno devem ser anunciados em 27 de maio.
Os colégios eleitorais fecharam às 21h00 locais (16h00 de Brasília), em vez das 20h00 (15h00 de Brasília), como previsto inicialmente, para receber o maior número de eleitores possível. Os colégios abriram às 08h00 locais.
Três horas antes do fechamento, o presidente da Comissão Eleitoral, Faruk Soltan, estimou a taxa de participação em 50%.
Citado pela agência oficial Mena, Soltan declarou também que o segundo dia de votação ocorreu em geral de forma "tranquila e organizada".
Se nenhum dos 12 candidatos em disputa conseguir a maioria absoluta, está previsto um segundo turno nos dias 16 e 17 de junho.
"Vamos votar sem saber quem vai ganhar", disse Noha Hamdi, de 27 anos, em um colégio eleitoral. "Antes eu não votava porque o vencedor era conhecido de antemão. Desta vez sinto que meu voto fará a diferença."
"Antes da revolução, eu nunca votei, porque era inútil. Desde então, votei em todas as eleições porque é meu direito e meu dever", disse Ahmed Badreddine, 37 anos, em um colégio eleitoral de Gizé, no Cairo.
Nesta quinta-feira, a previsão era de uma maior participação que na véspera, já que as autoridades decretaram ponto facultativo aos servidores para que pudessem votar.
O ministro do Interior, Mohammed Ibrahim, afirmou que apenas foram registradas "contravenções menores", que não perturbaram o desenvolvimento das eleições.
Mais de 50 milhões de eleitores escolhem entre os 12 candidatos que representam um amplo espectro político, de islâmicos, laicos, esquerdistas, liberais e partidários da "revolução" até antigos dirigentes da era Mubarak.
Os principais pretendentes são o candidato da Irmandade Muçulmana, Mohammed Mursi, o islamita independente Abdel Moneim Abul Futuh, o último primeiro-ministro de Mubarak, Ahmed Shafiq, o ex-ministro de Relações Exteriores e antigo chefe da Liga Árabe Amr Musa e o nacionalista árabe Hamdin Sabahi.
As eleições devem colocar fim a um período de transição tumultuado e marcado pela violência.
O Exército, no poder desde a queda de Mubarak, tornou-se alvo da ira de militantes pró-democracia que o acusam de ter mantido a política de repressão do regime deposto.
A imprensa egípcia celebrou as eleições "livres e históricas" e aplaudiu o fato de o primeiro dia ter se desenvolvido com calma e "alegria", apesar das incertezas que pesam sobre o país.
"O fato de os egípcios terem feito fila para eleger um presidente da República e que ninguém esteja de acordo sobre o nome do futuro presidente quer dizer que as coisas mudaram", disse o jornal independente Al-Shuruq.
Na quinta-feira, a participação média aumentou durante a noite, mesmo com a temperatura mais baixa. A comissão eleitoral não publicou cifras sobre a taxa de participação, mas o governo falou em um comunicado de uma "grande afluência".
Após décadas de eleições vencidas de antemão pelo regime, é a primeira vez que os egípcios elegem livremente seu chefe de Estado.
O resultado das eleições é chave para a direção a ser tomada pelo país mais povoado do mundo árabe, com cerca de 82 milhões de habitantes, dividido entre a tradição islâmica e uma normalização encarnada paradoxalmente por personalidades da era Mubarak.
Enquanto os egípcios votam, Mubarak, que governou entre 1981 e fevereiro de 2011, está hospitalizado perto do Cairo. Julgado pela morte de manifestantes durante a revolta e acusado de corrupção, o veredicto sairá em 2 de junho. A promotoria pediu pena de morte.