Londres - O Conselho de Segurança da ONU falhou ao não se mostrar à altura da "coragem" dos manifestantes em países como Síria e está "cada vez mais inadequado às necessidades", denuncia a Anistia Internacional em seu relatório anual sobre os Direitos Humanos em todo o mundo, que será publicado na quinta-feira (24/5).
"Povos se levantaram, arriscando suas vidas. Infelizmente, os governantes estiveram totalmente ausentes, tanto nacional quanto internacionalmente", declarou o secretário-geral da Anistia em Londres, Salil Shetty.
A Anistia critica particularmente a incapacidade da ONU para acabar com a violência na Síria, que já matou mais de 12.000 pessoas desde o início, em março de 2011, de uma revolta popular sem precedentes reprimida pelo regime.
"Os membros do Conselho de Segurança continuam a privilegiar os seus interesses políticos e comerciais em detrimento dos direitos dos povos", lamenta Salil Shetty, denunciando "uma traição do povo sírio".
A ONG aponta o dedo para a Rússia, fornecedora de armas à Síria, e a China, membros permanentes que bloquearam duas resoluções que condenavam a repressão do regime de Bashar al-Assad. Mas não exime de críticas Índia, Brasil e África do Sul, que "têm frequentemente mostrado um silêncio cúmplice".
"Enquanto o Conselho de Segurança levou ao Tribunal Penal Internacional o caso de Muammar Kadhafi, não tomou nenhuma ação semelhante contra o presidente sírio, Bashar al-Assad, apesar das evidências convincentes de crimes contra a Humanidade cometidos pelas suas forças de segurança", ressalta o relatório.
A Anistia considera que no Bahrein e no Iêmen, onde "os manifestantes também precisaram de uma proteção urgente contra as políticas assassinas de seus líderes", a comunidade internacional esteve "muito menos disposta a dar apoio".
No seu 50; relatório anual, a Anistia lamenta que as palavras de apoio da comunidade internacional, manifestadas no início da Primavera Árabe em 2011, não tenham sido "traduzidas em atos".
"Num momento em que os egípcios vão às urnas para eleger um novo presidente, a impressão cada vez mais dominante é que deixamos passar, sucessivamente, todas as oportunidades de mudança iniciadas pelos manifestantes", lamenta a ONG.
"A coragem demonstrada pelos manifestantes durante o ano passado é acompanhada pelas falhas do Conselho de Segurança da ONU, que aparece gasto, ultrapassado e cada vez mais inadequado para as necessidades", acusa a Anistia.
A ONG pede novamente à ONU a adoção de um "tratado forte" sobre o comércio de armas durante uma conferência agendada para acontecer entre os dias 2 e 27 de julho, em Nova York, que será "um teste decisivo para os políticos".
"Será o momento para que eles coloquem o respeito pelos direitos Humanos acima do lucro e de seus interesses próprios", declara a Anistia, notando que os membros permanentes do Conselho de Segurança são os "maiores fornecedores de armas do planeta".
"Sem um tratado forte, o Conselho de Segurança da ONU parece destinado a falhar no seu papel de guardião da paz e da segurança mundial", alerta a ONG.
O relatório da Anistia, que abrange o período de janeiro a dezembro de 2011, aborda a situação dos Direitos Humanos em 155 países e territórios. Ele enumera as restrições à liberdade de expressão "em 91 países e casos de tortura e outros abusos, muitas vezes infligidos a pessoas por causa de sua participação em manifestações, em 101 países".
A Anistia denuncia a utilização pela China de seu "arsenal" de segurança para "sufocar a dissidência" e a "situação dramática" dos Direitos Humanos na Coreia do Norte. Sobre os acontecimentos na Rússia, a ONG evoca adversários "brutalizados e sistematicamente denegridos".