Bagdá - O Irã e as grandes potências se reunirão na quarta-feira (23/5) em Bagdá para buscar uma saída para a crise desencadeada pela política nuclear de Teerã, apesar de o anúncio de um "acordo" entre o governo iraniano e a AEIA, a agência nuclear da ONU, ter sido visto com ceticismo por Israel.
As negociações entre o Irã e o grupo 5%2b1 (os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU -Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido- mais Alemanha) são realizadas um dia depois da visita de segunda-feira do diretor geral da AIEA, Yukiya Amano, a Teerã.
Amano anunciou nesta terça-feira (22/5), após a sua visita à capital iraniana, que um "acordo" será firmado "em breve" com o Irã. Será uma "aproximação estruturada" para resolver as questões pendentes sobre o polêmico programa nuclear do Irã, uma decisão que Amano classificou de "desenvolvimento importante".
"Na última vez disse: ;houve avanços;, e desta vez digo: ;houve uma decisão;", declarou ele sobre uma crise que perturba há anos as relações do Irã com a comunidade internacional. No entanto, uma autoridade israelense manifestou seu ceticismo quanto a um possível acordo entre as partes.
"Estamos muito céticos a respeito desse aparente acordo entre a AEIA e o Irã. Vimos (no passado) como acordos entre a AIEA e o Irã foram violados de maneira flagrante pelo Irã", afirmou à AFP nesta terça-feira o alto funcionário, que pediu para não ser identificado. "O Irã segue querendo destruir Israel e ameaça a paz mundial", havia afirmado na segunda-feira (21/5) o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
A agenda da reunião de quarta-feira (23/5) pode ser afetada pelo mau tempo, que obrigou a fechar o aeroporto de Bagdá. Embora o chefe dos negociadores iranianos, Salid Jalili, já esteja na capital iraquiana, a chegada das outras delegações está em suspenso.
O Irã ampliou consideravelmente a gama de suas atividades nucleares nos últimos anos, quando começou a enriquecer urânio em 20%, aproximando-se do nível de 90% necessário para fabricar armas atômicas. Já o Conselho de Segurança da ONU aumentou as pressões sobre uma economia iraniana enfraquecida pela recessão e pela inflação.
Para o presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, que concorre à reeleição em novembro contra um adversário republicano que o acusa de não ser suficientemente duro com o Irã, um avanço na questão iraniana será muito benéfico.
Vários novos fatores, como uma reunião em Istambul em meados de abril, a primeira em 15 meses, abriram o caminho para a reunião de quarta-feira em Bagdá. Segundo ambas as partes, o ambiente melhorou notavelmente e existe vontade de diálogo.
Em Bagdá as negociações devem se focar "na substância concreta". "Agora são os iranianos que têm a palavra. São eles que têm que dar o primeiro passo", advertiu um diplomata europeu em Bruxelas, ressaltando que o tempo estava se esgotando.
As grandes potências querem convencer o Irã para que seja suspenso o seu enriquecimento em 20% e para que aceite visitas mais rígidas de inspetores da AIEA por meio do estabelecimento de um protocolo adicional do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP).
O Irã pode ver frustrado seu desejo de que sejam reduzidas as sanções em troca de concessões em seu programa nuclear. Na melhor das hipóteses os iranianos podem esperar uma promessa -sob condições- de que não seja discutida a adoção de novas sanções.
De qualquer forma, nada garante que os dois campos possam chegar a fazer promessas firmes, segundo outro diplomata. Ainda que as discussões se desenvolvam em um bom ambiente, os resultados podem não ser "tangíveis".