Nova York - Um estudante universitário que filmou sem permissão um colega de quarto homossexual que acabou se suicidando foi sentenciado nesta segunda-feira (21/5) a 30 dias de prisão, uma condenação muito inferior à pena máxima de 10 anos, em um caso que suscitou um forte debate nos Estados Unidos.
Tudo começou em 19 de setembro de 2010, quando Dharun Ravi, de 20 anos, nascido na Índia, pôs para funcionar sua webcam no quarto que dividia com Tyler Clementi, de 18 anos, na Universidade Rutgers (Nova Jersey, leste), e assistiu à distância um beijo entre ele e outro homem.
Ravi voltou a fazer o mesmo dias depois, mas desta vez convidou seus amigos através de sua conta no microblog Twitter para que vissem o que acontecia entre Clementi e o homem.
Clementi, que seguia Ravi no Twitter, desligou a webcam quando leu o convite de seu colega de quarto.
Pouco tempo depois, em 22 de setembro, o jovem homossexual, um violinista introvertido e com personalidade contrária à de seu colega de quarto, pulou no rio Hudson do alto da ponte Washington Bridge, que liga Nova York a Nova Jersey.
Seu advogado alegou que Ravi só era culpado de uma brincadeira que terminou mal. O jovem não foi julgado pela morte de Clementi, mas pela intimidação e pela invasão de privacidade de seu colega de quarto.
Antes de anunciar a sentença, o juiz Glenn Berman, de New Brunswick, Nova Jersey, se dirigiu a Ravi, à beira das lágrimas.
"Eu não escutei um único pedido de desculpas", disse o magistrado.
Berman denunciou a "colossal falta de sensibilidade" de Ravi por ter filmado Clementi à distância, mas acrescentou que não recomendaria a deportação de Ravi, nascido na Índia.
"O senhor nunca poderá apagar a dor que causou", disse-lhe o juiz.
A mãe do agora ex-aluno implorou por clemência ao juiz, pedindo para "dar uma oportunidade" ao seu filho que, disse, viveu "20 meses infernais".
A mãe de Clementi, ao contrário, chamou Ravi de jovem "arrogante e mau" que tentou humilhar seu filho.
O caso, que ganhou destaque, enfureceu a comunidade gay e provocou discussão sobre o assédio eletrônico ("cyber-bulling") e as brincadeiras com os homossexuais. Outros, no entanto, afirmaram que Ravi foi vítima de um promotor exagerado.
Os cientistas recuperaram muitos e-mails e mensagens no Twitter dos jovens envolvidos para tentar esclarecer o caso, sobretudo os de Ravi, onde ele menciona a homossexualidade de seu colega de quarto e nos quais convidava seus amigos a espioná-lo com ele.
Além dos 30 dias de prisão, Dharun Ravi terá que realizar 300 horas de trabalhos comunitários.