Paris - A partir do momento em que assumir o cargo, na próxima terça-feira, François Hollande deverá enfrentar o temido desafio da recuperação das finanças públicas, agravado pelas sombrias previsões econômicas da União Europeia ou do Banco da França.
O presidente eleito francês adiantou na sexta-feira que havia previsto esta situação. "Há várias semanas eu sabia que havia uma degradação maior do que o governo em fim de mandato dizia de nossas contas públicas", declarou.
Sua equipe se apressou, no entanto, a informar que o compromisso assumido pela França diante de seus sócios europeus de limitar os déficits públicos a 3% do PIB no próximo ano, contra 4,5% esperados neste ano, será mantido.
Resta saber como. Ao se referir à "pesada herança" do governo atual do conservador Nicolas Sarkozy, Michel Sapin - cujo nome circula com insistência para o Ministério da Economia e Finanças - afirmou que o governo que será formado na quarta-feira adotará "as medidas necessárias", mas sem informar quais.
A Comissão Europeia, enquanto isso, não tem boas previsões. Segundo ela, se nada for feito, os déficits públicos na França alcançarão 4,2% do PIB no próximo ano, ou seja, 1,2% a mais que o esperado, e o crescimento se estancará em 1,3%, abaixo da taxa de 1,7% prevista pelo novo presidente.
Na quinta-feira, o Banco da França anunciou que esperava um crescimento zero no segundo trimestre deste ano, como no primeiro.
Estas tensões são agravadas pelo caos político e econômico que reina na Grécia e pela perspectiva de uma teste de força entre Paris e Berlim. O presidente Hollande irá na terça-feira a Berlim para tentar convencer a chanceler Angela Merkel de que medidas a favor do crescimento também são necessárias.
Enxurrada de medidas fiscais
Para liberar novos recursos, o novo governo francês deve impulsionar até julho um importante pacote de medidas fiscais: revisão do imposto às empresas para beneficiar as PME, redução das isenções fiscais, imposto adicional sobre os lucros dos bancos e companhias petroleiras, aumento dos impostos às grandes heranças e ganhos de capital, imposto de 75% acima de 1 milhão de euros em receitas anuais.
Os economistas estimam em ao menos 10 bilhões de euros o esforço extra que será necessário, se as previsões de crescimento de Bruxelas estiverem certas.
Segundo Jean-Hervé Lorenzi, que apoiou a candidatura de François Hollande, "tudo será jogado nos próximos dez dias" para o novo presidente, com "dois meses que serão difíceis, marcados por uma série de planos sociais".
Para reduzir o gasto público, o presidente do Círculo de Economistas defende uma "grande transformação das administrações através de uma generalização do modelo de autonomia das universidades". Também pediu à nova equipe que "imponha o esforço fiscal às receitas e não coloque empecilhos à criação de riquezas e ao espírito empresarial".