Paris - François Hollande, que assumirá na terça-feira (15/5) a presidência da França, já se posicionou no debate sobre o crescimento europeu, criando grandes expectativas como contrapeso aos ajustes incentivados pela Alemanha, mas recebendo, ao mesmo tempo, fortes pressões.
Hollande se reunirá na terça-feira (15/5), imediatamente depois da transferência de poderes presidenciais, com a chefe do governo alemão, Angela Merkel, um primeiro contato particularmente difícil entre o presidente socialista e a chanceler conservadora, que se negou a recebê-lo antes de ele ganhar a eleição e cujos pontos de vista são diametralmente opostos.
O governo alemão afirmou nesta sexta-feira (11/5), ao confirmar o encontro, que "não serão tomadas decisões, mas que (o encontro) servirá para (eles) se conhecerem", segundo o porta-voz governamental, Steffen Seibert.
Na quinta-feira (10/5), Merkel pediu que os países europeus respeitem os compromissos de rigor fiscal e rejeitou a posição de Hollande, apesar de não mencioná-lo. "Um crescimento baseado no crédito nos levará de novo ao começo da crise. Não o queremos, não o faremos", disse.
[SAIBAMAIS]Na sexta-feira (11/5) foi o ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, que reiterou essa posição, também sem mencionar Hollande. "Decidimos por fim à política de endividamento. As eleições não invalidam os acordos entre os Estados", disse Westerwelle diante dos deputados alemães.
Merkel e eu "temos posições que ainda não são convergentes", declarou Hollande nesta quinta-feira (10/5).
Apesar de diversos analistas considerarem que um acordo é possível, já que Hollande não rejeita o pacto de equilíbrio orçamentário em si, mas que deseja completá-lo com medidas de fomento ao crescimento, o diálogo de Hollande com Merkel não será fácil.
Ainda mais que a Comissão Europeia anunciou nesta sexta-feira (11/5) previsões econômicas para França inferiores as de Hollande.
Segundo a comissão, o déficit público da França será em 2013 de 4,2% de PIB, quando as previsões de Hollande se baseiam em cerca de 3% do crescimento e o PIB aumentará no ano 1,3%, cifra inferior à expectativa de Hollande, de cerca de 1,7%, apesar de melhor que a do FMI (1%).
Mas Bruxelas esclareceu que suas previsões são feitas partindo de uma suposta "política econômica constante", ou seja, que não leva em conta possíveis mudanças de orientação depois da posse de Hollande.
Hollande confirmou nesta sexta-feira seus objetivos, afirmando que sua equipe "tinha antecipado" a degradação das contas públicas.
Antes de assumir, Hollande multiplicou as consultas com dirigentes europeus. Na quarta-feira se reuniu com o presidente da União Europeia (UE), Herman Van Rompuy e na quinta-feira (10/5) com Jean-Claude Juncker, o primeiro-ministro luxemburguês e presidente do Eurogrupo.
Van Rompuy tinha anunciado na terça-feira (8/5) a realização de uma cúpula de dirigentes europeus, 23 de maio, em que o tema central será o crescimento.
Juncker afirmou no mesmo dia que compartilha a opinião do novo presidente francês sobre a necessidade de iniciativas que favoreçam o crescimento, apesar reiterou que se opõe à renegociação do tratado fiscal.
"Defendemos uma utilização mais importante de meios estruturais e um aumento do capital do Banco Europeu de Investimentos", declarou no Parlamento de seu país.
As propostas de Hollande receberam apoio de numerosas personalidades europeias e, além da Europa, inclusive o do diretor da Organização Mundial de Comércio (OMC), o francês Pascal Lamy, que defendeu um "orçamento europeu de crescimento" em um artigo publicado na terça-feira no jornal Le Monde e co-assinado pelo ex-presidente do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (BERD), Jacques Attali.