Jerusalém - O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e o líder opositor Shaul Mofaz provocaram uma enorme surpresa ao anunciar um acordo de união que permite evitar as eleições antecipadas e constitui a maior coalizão de governo na história de Israel. Seis semanas depois de ter assumido a direção do partido de centro Kadima, Mofaz se uniu à coalizão de direita de Netanyahu, que por sua vez desistiu de convocar eleições legislativas para setembro.
Mofaz e Netanyahu negociaram o acordo em sigilo, enquanto o Knesset (Parlamento) se preparava para votar a própria dissolução ante a perspectiva de eleições. Este entendimento ainda deverá ser aprovado pelo Knesset e permitirá a Netanyahu ter a maioria esmagadora de 94 deputados sobre 120.
Com o acordo, Netanyahu renunciou às eleições e Mofaz deve ser anunciado como vice-premier e ministro sem pasta. Mofaz deverá prestar juramento ao Knesset na quarta-feira. Os dois dirigentes também concordaram que um novo texto mais igualitário substituirá a controversa "lei Tal", que exime do serviço militar os judeus religiosos ortodoxos. Mofaz, um ex-general, defende uma alteração na lei, proposta rejeitada pelos partidos laicos.
O acordo entre Netanyahu e Mofaz prevê a retomada do processo de paz com os palestinos e garante o voto favorável ao orçamento nacional para o próximo ano fiscal. O presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, pediu ao novo governo israelense que trabalhe por um acordo de paz, enquanto o Hamas, que governa Gaza, se mostrou pouco esperançoso a respeito da retomada das negociações.
Yussef al-Rizq, conselheiro político do chefe de Governo do movimento palestino Hamas em Gaza, Ismail Haniyeh, disse que a formação de um governo israelense de união nacional representa uma grave ameaça para a Faixa de Gaza e significa uma paralisação no projeto de negociações de Abbas.
Nenhuma outra personalidade do Kadima entrará para o governo, mas diversos dirigentes deverão obter cargos importantes, em especial na poderosa comissão parlamentar de Assuntos Estrangeiros e de Defesa, assim como na comissão de Assuntos Econômicos. Mofaz, que havia jurado que nunca se uniria ao governo de um "mentiroso", se comprometeu a permanecer na coalizão até o fim da legislatura, em outubro de 2013. Este anúncio praticamente teatral havia sido cuidadosamente preparado e desatou a fúria da minoritária oposição de esquerda.
Para Shelly Yachimovich, nova líder trabalhista, este é um "pacto de covardes". Também disse que este é o "mais ridículo zigue-zague na história política israelense". Na manhã de segunda-feira, Netanyahu havia confirmado durante o Conselho de Ministros que desejava organizar eleições antecipadas em 4 de setembro.
Na véspera, o primeiro-ministro antecipara que desejava formar após as eleições "um governo tão amplo quanto possível para assegurar o futuro de Israel". Quase metade (48%) dos israelenses consideram Netanyahu o melhor candidato, enquanto seu partido, o Likud, aspirava conquistar 31 cadeiras no Parlamento.
O partido Kadima, a principal força de Israel com 28 deputados, está em queda livre. As pesquisas previam, na melhor das hipóteses, a eleição de 12 legisladores. Aos olhos de seu partido, Mofaz, 63 anos, é visto como um "salvador", apesar de passar a ser o líder da mais efêmera oposição da história do país.
Mofaz, nascido no Irã e ex-integrante do Likud, ex-comandante do Estado-Maior e ex-ministro da Defesa, construiu uma sólida reputação de homem movido pelas ambições pessoais, mais que por ideologia. Seus simpatizantes destacam a rica experiência militar, que pode ser extremamente útil a Israel, no momento em que Netanyahu considera que o programa nuclear iraniano é uma ameaça à existência de Israel.