Damasco - Milhares de pessoas protestaram nesta sexta-feira (4/5) em diversas cidades da Síria contra o regime de Bashar al-Assad, que reprimiu os protestos violentamente, denunciaram um organismo não-governamental e militantes locais.
Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), com sede em Londres, as forças governamentais efetuaram disparos que causaram a morte de um manifestante no bairro de Al-Tadamone, em Damasco. Outras 11 pessoas morreram em Aleppo, Homs e Hama, por causa da violência, apesar da presença de observadores da ONU que verificam a suspensão das hostilidades.
As marchas de protesto também foram reprimidas a tiros nos bairros de Jobar e Al-Assali, em Damasco, onde diversos manifestantes foram presos, segundo o Comitê Local de Coordenação que apoia a revolta popular.
Como em todas as sextas-feiras desde março de 2011, milhares de manifestantes protestaram em diversas cidades atendendo a uma convocação de militantes pró-democracia, para reafirmar seu apoio a revolta popular com o lema: "Nossa lealdade (à revolta) é nossa salvação".
"A Síria quer liberdade", "a Síria sangra", "Fora Bashar", eram algumas das palavras de ordem que podiam ser lidas nos cartazes dos manifestantes em Arbine, próximo de Damasco, enquanto militantes divulgaram na internet vídeos sobre manifestações similares em Homs, Qamichli (noroeste), Idleb (noreste) e Deraa (sul).
"Resistiremos mesmo que eles ocupem todos os lugares", disseram militantes em Deraa, referindo-se às operações realizadas pelo Exército em várias cidades. "O povo quer a morte de Bashar", gritava a multidão em Idleb.
As manifestações são organizadas habitualmente na saída das mesquitas depois das orações semanais, apesar da repressão e da militarização da revolta.
Na quinta-feira, as forças de segurança efetuaram um ataque contra a cidade universitária de Aleppo, em uma operação que provocou a morte de quatro estudantes e terminou com 200 detidos depois de uma manifestação opositora. O ataque obrigou a universidade a suspender suas aulas até dia 13 de maio.
"Nos reuniram em frente ao dormitório das mulheres e nos obrigaram a ficar nus. Nos arrastaram e depois caminharam sobre nós dizendo insultos", disse o estudante Abu Taym, de 22 anos.
Segundo Taym, alguns estudantes preferiram se atirar do terceiro ou quarto andar a serem presos.
A persistência de episódios de violência levou os governos dos Estados Unidos e da França a expressarem mais uma vez suas dúvidas sobre a vontade do governo de Assad em respeitar o cessar fogo assinado como parte do plano de paz elaborado por Annan.
No entanto, o porta-voz de Annan em Genebra disse que o plano de paz na Síria estava "no caminho". "Há pequenos sinais. Algumas armas pesadas foram retiradas, outras permanecem, alguns atos de violência diminuíram, outros foram mantidos", disse o porta-voz.
"Uma crise que começou há mais de um ano não pode ser resolvida em um dia ou uma semana", disse, acrescentando que Annan informará ao Conselho de Segurança da ONU, dia 8 de maio sobre o andamento do plano de paz.
Para o general Robert Mood, chefe da missão de observadores da ONU na Síria, o exército deve dar o primeiro passo para interromper a violência. O militar norueguês visitou Idleb, onde a ação dos observadores será reforçada, segundo informou a televisão síria.
No total, mais de 600 pessoas - em sua maioria civis - morreram na Síria desde o cessar fogo formal e mais de 10 mil desde o começo da revolta, segundo o OSDH.
O número de observadores encarregados de verificar a suspensão das hostilidades chegará a 100 em um mês e a 300 no futuro, segundo uma resolução do Conselho de Segurança da ONU.
O plano de paz elaborado por Annan inclui também a libertação de presos, o direito de se manifestar publicamente e a livre circulação da imprensa e da ajuda humanitária.